Ele era meu reino. E sobre ele, eu exercia todo o poder que eu não tinha.
Inventei até que você me amava. Inventava todo dia. Você dizendo pra mim, com todas as letras, e com todo o carinho que alguém possa querer: Eu te amo. Você dizia todo dia.
E eu acreditei no que inventara. Você era meu Hércules, meu Aquiles, meu Mr. Darcy, meu Romeu, ou qualquer outro entre tantos inventados. Era aquilo tudo que eu sempre sonhei.
Como boa lusitana que sou, inventei o mar pra você navegar. E um cais. No qual te esperaria todos os dias, com o peito cheio de amores. Todos seus. Inventados.
Quando você saia pro mar, eu te inventava um pouco mais. Seus cabelos voltavam mais compridos. Sua barba, maior. Seus olhos, mais escuros.
E nos teus beijos, mais quentes do que aquele sol que me queimava a pele, eu morria de tanto inventar. Bastava ter você. E meus sonhos. Teus abraços e sua mão esquerda que me desenhava ondas dos mares por onde navegavas.
No dia que minha imaginação falhou. Você não voltou do mar. Eu tentava lembrar dos teus lábios, do teu cheiro. Mas não adiantava. Eu tinha apagado você. Da mesma forma, simples e apaixonada como havia te inventado.
Nosso Cais continuava lá. E a água brilhante e os pássaros coloriam a paisagem e cantavam uma melodia que eu não conseguia entender. Era teu nome. Mas eu, não consigo lembrar.