sexta-feira, 7 de março de 2014

A solidão é um lixo paralisado

Poderia ter sido sonho, mas o dia tinha acordado laranja e você já tinha saído para trabalhar. As ruas cobertas de lixo contavam a história que Saramago tão belamente escreveu. Estamos a nos trucidar por diversão. E a cama fica maior quando você não está. O que será que acoberta a solidão?

Será a luta que nos coloca no meio de todo mundo? Será a música que nos acompanha o tempo inteiro, no fone de ouvido ou na mente?
Será o lixo e a iminência de guerra?

O que esconde a minha solidão?

Anda devagar o moço na rua, e a fumaça do cigarro na janela já não aparece em dias nublados. Ele desvia dos plásticos e dos restos de comida na calçada, tem medo de se sujar. Ele que até agora também estava só, caminha na companhia do lixo, do resto de muitos outros.

Vejo tudo com tanta nitidez que minha vista começa a nublar. Talvez chova. Talvez não.

Quem sabe a chuva não abrigue minha solidão...

Saboreio o fumo da janela, como quem pudesse entender o que via.
Essa cidade que é tão quente, hoje acorda fria.
Gélida, mas ninguém pode sentir esse frio com tanto ódio no coração.

Pode ser o ódio o grande salvador da solidão?

Dizem por essas bandas que a solidão é uma dança.
E os homens de laranja como o dia começam a dançar, é carnaval.

Será que eles tem a solução?

Talvez possam varrer a minha solidão para algum lugar remoto, e lá ela possa repousar.

Vou olhar pela janela, e você vai voltar.

Vestido de laranja, com uma viola e coberto de purpurina.