Nos dias frios, ela sempre ficava um pouco vulgar. Algo
acontecia com sua libido, e com sua vontade de ser nada, banal, inexistente,
igual a tudo e a todos.
O telefone tocou e a coberta que a aquecia escorregou um
pouco. Atendeu e sentiu frio.
Era ele.
Ele começou a divagar sobre dezenas de assuntos que
só diziam respeito ao que ele gostava de ouvir.
Ela, com frio, permaneceu em silêncio.
E ele não parava de falar de si.
Nas terças-feiras, o frio nunca lhe incomodava, mas naquela
a coberta se fez pequena e inútil.
O pouco que ela dizia era sobre ele.
E o muito que ele dizia era sobre ele.
Então, ela se questionou – por que diabos ele me ligou?
Sem eira, nem beira ele mandou um beijo e se despediu.
Sequer perguntou se ela estava bem.
E ela... ela só queria dizer que estava com frio.