Te vi na encruzilhada, foi onde você me deu um beijo na
testa e disse: “vai com Deus”. E então, você seguiu em frente. Seu caminho foi
linha reta. E eu, eu sempre viro à esquerda. Não faz mal, as encruzilhadas
existem pra isso, não é mesmo?
Havia quatro opções naquela noite, e eu demorei a perceber
que as escolhas também são feitas pelo destino, e que nunca existira acaso, foi
tudo caminho.
Foi caminho que me colocou aquela encruzilhada e você ali, com
seu abraço cheio de carinho, e sua cabeça cheia de dúvidas.
Queria ter ficado pra mais um cigarro, mais uma cerveja,
mais um samba. Mas Tempo sabe que não se deve permanecer muito tempo na
encruzilhada, e nós conhecemos Tempo. Seguimos, você e eu. E você encontrou
aquilo que eu queria ter te dado mais na frente. Eu vi, eu também vi as
encantarias e os feitiços que você me contou, e mesmo que não tenha sido você a me
mostrar, eu vi.
Não fosse aquela encruzilhada, eu ainda estaria parada num ponto
qualquer de uma avenida qualquer, sem ver os pássaros que giram, e as moças que dançam, nem
mesmo teria conhecido quem manda no meu destino. Estaria parada, esperando
alguma coisa acontecer. E agora eu tracei meu caminho, sou dona dele.
Por isso, não me deixe esquecer de florir teu caminho, mesmo
que ele não seja o meu, repara nas flores, elas sou eu. Porque mesmo que a
gente não ande junto, e nossos deuses sejam rivais, eu carrego comigo aquele gosto
da possibilidade não vivida que é bela por ser inexistente.
O gosto da encruzilhada.