quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dose de lirismo

Senta-te, pegue tua guitarra e meu porto. Que hoje cantaremos um fado.




As ruas de Lisboa cheiram a ti. Tem teu gosto e toda a gente sabe que meu canto tem teu nome. Tu te banhaste no meu Tejo e contaminaste a minha cidade, a minha alma.
Posso te olhar neste céu estrelado, e cá pertinho a brisa que vem do mar e sobe a ladeira congela meu rosto. És tu, amor meu, que atravessa mares para encontrar esta rapariga que canta a te esperar.

Sabes que meus sentimentos estão guardados num cantinho de areia em frente ao porto que irás chegar. Tu os pegará, há de aquecê-los do frio, e os trará de volta para mim.
Ah Marinheiro, como pudeste partir? Como um lusíada de uma história sem sentido tu roubaste tudo o que há em mim. Este mar, este céu, esta lua, estas ruas, este vinho, amor meu, tu levaste o sentido de tudo.

O vento castiga meu coração, as ondas o afogam minuto após minuto. Recuso-me a sair daqui. Espero-te, Andarilho dos Sete Mares. Mares que desejo, ardente, frio, azul, profundo.
Entras pelo meu Tejo, meu Marinheiro. Chega-te a tua cidade, a tua amada.

Amargura-me tua ausência, e amargura maior é a tua presença em tudo o que amo de minha terra lusitana. Choro ao cantar este fado, onde todas as notas são ondas deste mar em que navegas, onde cada palavra é teu nome. E quando Lisboa silencia, rio. Ao escutar ondas mais fortes, alucinar a tua imagem vinda no teu veleiro. Chegando junto a mim.

Pare a guitarra. Acabou o porto. Levanta-te.

2 comentários:

Carol disse...

Hà beleza nessa tristeza, ainda que fria... mas sei nos fados são assim, nè... parece um sonho cinza.

Clarissa de Andrade Correa disse...

texto com gostinho de mar. Me senti mulher sentada na beira da praia com o vestido molhado esperando.
Muito bonito. Ficou parecendo uma música, uma poesia, um pedido, uma reza. Lindo.