Ainda é escuro e um amigo dorme ao lado. É provável que ainda exista um resquício de sonho em mim. Do contrário, não pensaria tal coisa.
O amigo dorme e sonha. Tal como eu, há algumas horas. E não deveria fazer sentido, porque onde estamos, não deveríamos ter dormido. Pra que dormir? A vida acordada é bem mais real do que os sonhos que crio e que inevitavelmente me aprisionam o dia inteiro. Aquilo que é irreal toma conta de mim, meu irreal é mais bonito.
Talvez seja por estar tão longe da realidade que eu me permita não sonhar. Ou sonhar acordada fingindo ser realidade aquilo que sonho. Ou talvez eu mesma ainda não tenha acordado. E seja a mesma coisa.
Agora o amigo acorda. E me pergunta se ainda estou dormindo. Como se eu não soubesse que nem dormindo, nem acordada estou. Eu estou a sonhar. E transfigurando a realidade. Por que diabos eu ficaria acordada ou dormindo, se sonhar é mais legal?
Ele mesmo ainda não decidiu se acorda ou dorme, se sonha ou vive. Muito menos eu. Ainda não decidi e nem o farei, ficarei aqui, naquele momento entre o acordado e o dormindo onde que muitas pessoas pensam que estão caindo. Eu ficarei ali, sem dormir. Enquanto meu amigo não levanta. E quando tal acontecer, eu continuarei ali. A andar pelas ruas da minha não realidade.
E não faz o menor sentido.
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