Leve, leve, muito leve,
Um vento muito leve passa,
E vae-se, sempre muito leve.
E eu não sei o que penso
Nem procuro sabel-o.
Alberto Caeiro
Ontem a noite um homem passou aqui. Tinha cabelos negros e
usava uma barba comprida. Disse que voltaria. Eu não entendi muito bem o que
ele queria. Acho que deveria ter algo a me falar. Mas não o fez.
Só disse que voltaria. Com um sorriso nos lábios.
Ele também perguntou meu nome e se eu gostava de tulipas.
Mas que depressa, eu disse que essas eram as minhas flores preferidas. E que
mais do que de tulipas só os abraços. E ele disse que voltaria.
Sentei no banco da varanda e esperei. Espero. Mas ele ainda
não voltou. E não sinto que vá. Nem sombra da sua presença nesta tarde
ensolarada e seca parecem existir. Não existem.
Para quem anda sozinha, qualquer possibilidade frustrada de
companhia é como a perda de algo tão valioso quanto tulipas nos trópicos.
Acho que ele não volta. Ele disse que voltaria.
Fico prostrada no banco como se pudesse tirar algo da tarde, como
amor, de um estranho.
5 comentários:
Que coisa linda sua sensibilidade poética.
Me fez internalizar de leve... Adorei...
Eu me encanto mais com as coisas que passam, porque não sei cuidar delas quando elas ficam...
Esperemos pelo Amor, mesmo que ele passe, às vezes penso que as coisas boas estão em nossas vidas só de passagem...
Esperar também tem seu sabor, amargo talvez, mas se dele surgem as doces palavras, esperemos um pouco mais...
Esse merece muuuitos curtis, mto lindo!
MARAVILHOSO
Postar um comentário