Quando eu era criança, eu tinha a ilusão de que viver era
indolor.
Mas me despi delas. Venho chamar aqui na sua porta, pra te
dizer que ta chovendo muito, e eu tenho medo de trovão.
Aqui estou, palavras, vozes e cicatrizes.
Eu queria ter menos, eu queria ser menos. Sentir menos.
Talvez não estaria acompanhada desse céu, dessas estrelas,
eu sei.
É raro ter companhia quando se é assim.
Eu já fui tanta gente, e tive que me achar nesse mundo todo.
Dói, dói ser o que se é. Se assumir, com a transparência e a
loucura de se contradizer. De dizer demais.
Mas, quando chove, quando as estrelas somem, eu sinto falta
de você. Seja você quem você seja.
Você me encontrará em cada coisa que eu tenha vivido.
Porque você existe.
E eu aprendi a existir, também.
Minha agonia é uma proposta.
E talvez seja você que me acompanhe.
Me acompanhe nessa agonia de não se esconder.
Eu proponho que você me conheça.
Mas eu não deixo de ser eu. Porque eu já não quero mais ser
todo mundo.