segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Chegou uma carta que dizia: em minha pátria não há justiça

As estrelas tiritavam no alto céu, como uma promessa de outros mundos.
E o vento soprava forte e fresco. Acalmando a pele ardida do sol forte.
As mãos estavam vazias, e então a carta apareceu. Gritando forte aquilo que meu coração já estava cansado de saber.

Não, aqui na minha pátria não há justiça. Os famintos pedem pão, e bala lhes dão a polícia. Mas eu não tenho fome. Tenho medo. O medo do conteúdo da carta, dos meus irmãos presos, dos meus irmãos soltos.

É um privilégio viver, paradoxalmente me dizia a carta, porque aqui se mata a sangue frio. Olhei para as estrelas, e agradeci ao privilégio, mas meu coração doeu. Nem todos tem privilégio, e se viver é um privilégio, de que justiça falamos?

Senti frio. Por que essas promessas residem tão longe?
Em que mundo morará a justiça? Em que estrela dorme a igualdade?
Será que em alguma estrela dessas dançará a liberdade?

Mas a carta ia amassando, e as nuvens cobriram as estrelas, e o vento parou.
Violeta me disse, a vida já te deu muito. E lá mora Violeta, em uma dessas estrelas, junto com a liberdade, a justiça e a igualdade.

E eu sonho, de um dia encontra-las sem virar estrela.


Joguei a carta no lixo. E fui criar o que não existia.

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