As estrelas tiritavam no alto céu, como uma promessa de
outros mundos.
E o vento soprava forte e fresco. Acalmando a pele ardida do
sol forte.
As mãos estavam vazias, e então a carta apareceu. Gritando
forte aquilo que meu coração já estava cansado de saber.
Não, aqui na minha pátria não há justiça. Os famintos pedem
pão, e bala lhes dão a polícia. Mas eu não tenho fome. Tenho medo. O medo do
conteúdo da carta, dos meus irmãos presos, dos meus irmãos soltos.
É um privilégio viver, paradoxalmente me dizia a carta,
porque aqui se mata a sangue frio. Olhei para as estrelas, e agradeci ao
privilégio, mas meu coração doeu. Nem todos tem privilégio, e se viver é um
privilégio, de que justiça falamos?
Senti frio. Por que essas promessas residem tão longe?
Em que mundo morará a justiça? Em que estrela dorme a
igualdade?
Será que em alguma estrela dessas dançará a liberdade?
Mas a carta ia amassando, e as nuvens cobriram as estrelas,
e o vento parou.
Violeta me disse, a vida já te deu muito. E lá mora Violeta,
em uma dessas estrelas, junto com a liberdade, a justiça e a igualdade.
E eu sonho, de um dia encontra-las sem virar estrela.
Joguei a carta no lixo. E fui criar o que não existia.
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