Contava os segundos a moça de preto e rosa do lado de fora
do café. Olhava em direção a subida da ladeira, e novamente olhava o relógio
com um propaganda de refrigerante que ficava no passeio da rua.
Fazia frio, muito frio. O termômetro do mesmo relógio
marcava seis graus celsius, mas talvez a sensação fosse de um grau ou menos. O
vento cortava, mas a moça não saía da calçada. E não parava de buscar.
Meio-dia – anunciou o relógio.
Ela parecia ficar ainda mais inquieta. Seu pescoço balança,
confuso, entre a ladeira e o relógio.
Me perguntei se ele viria. Ou talvez ela. Me perguntei a quem ela esperava.
Talvez ela não esperasse ninguém. E meu coração começou a
apertar.
Pedi, então, um segundo café, para me assegurar que não
congelaria na rua.
O relógio marcou “12:15”, a mulher de rosa e preto batia o
salto no chão, incessantemente. Era já um atraso rude, e pela janela, vi sua
esperança desmanchar no chão.
Ela suspirou, olhou mais uma vez pro alto da ladeira que
descia. Abaixou a cabeça, suspirou mais uma vez. Olhou de novo, com o resto de
esperança que escorria de suas pernas.
Ninguém descia.
Engoli o que sobrou do café. Deixei o dinheiro na mesa. E
saí.
Ela andava devagar, olhando pro chão, procurando suas
esperanças derramadas.
Eu sem querer, ou por muito querer, esbarrei nela. E me vi
em seus olhos.
Percebi que quem esperava era eu. Mas pelo que eu esperava?
Olhei o relógio. Guardei o café como desculpa.
E subi a ladeira.
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