Mais uma vez cantava uma canção antiga, com sua voz rouca.
Perguntei o que ela tanto olhava, e ela com um sorriso respondeu:
"Quando eu amei, achei que tinha cólera. Não sabia distinguir o que sentia.
O que eu sabia era que ele me deixava doente.
Os sonhos, quer dizer.... os pesadelos, eram todos com ele. E todos me davam febre."
Mas uma canção saia daquele olhar perdido.
E a cólera dói? - perguntei.
Como amor - os olhos vazios me disseram.
É impossível não adoecer, pensei.
Pensei nos braços. Nas pernas. No peito largo e quente.
Senti a febre a queimar minha testa. O que sentia?
Seria cólera? Seria amor?
Deveria ser um demônio possuindo minha alma.
Aquele demônio que nos domina, e se transfigura naquilo que a gente acha que quer.
É posse. Ou doença.
Amor, não.
Então, debrucei-me na janela. E meus olhos também se perderam.
Ao lado dela, perdemos o tempo. Até a doença passar.
Eu me curei primeiro.
E hoje, sinto falta dos tempos da cólera.
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