terça-feira, 9 de julho de 2013

Minha cólera, à Gabo.

Eu olhava pra ela. E ela olhava a janela. 
Mais uma vez cantava uma canção antiga, com sua voz rouca. 
Perguntei o que ela tanto olhava, e ela com um sorriso respondeu: 
"Quando eu amei, achei que tinha cólera. Não sabia distinguir o que sentia. 
O que eu sabia era que ele me deixava doente. 
Os sonhos, quer dizer.... os pesadelos, eram todos com ele. E todos me davam febre." 

Mas uma canção saia daquele olhar perdido. 
E a cólera dói? - perguntei. 
Como amor - os olhos vazios me disseram. 

É impossível não adoecer, pensei. 
Pensei nos braços. Nas pernas. No peito largo e quente. 
Senti a febre a queimar minha testa. O que sentia? 
Seria cólera? Seria amor? 
Deveria ser um demônio possuindo minha alma. 
Aquele demônio que nos domina, e se transfigura naquilo que a gente acha que quer. 

É posse. Ou doença. 
Amor, não. 

Então, debrucei-me na janela. E meus olhos também se perderam. 
Ao lado dela, perdemos o tempo. Até a doença passar. 
Eu me curei primeiro. 

E hoje, sinto falta dos tempos da cólera. 



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