Acompanhava em procissão os homens que iam se crucificando
ao longo do caminho. Olhavam uns nos olhos dos outros e se viam. Chagas e
sonhos.
Carregavam pesadas cruzes, eram os sonhos que ameaçavam a
ordem e o progresso do mundo. Não se cruzavam na estrada, passava apenas um
após o outro. E quem observava de fora, como por fetiche ou ignorância,
aplaudia.
Eles sangravam e aquele sangue que marcava o asfalto quente
sujava meu pé.
Eu vi um deles caí, mas como acompanhante não podia fazer
nada além de olhar.
Quis ajuda-lo, mas o homem de capacete e escudo me puxou
para dentro da faixa de contenção. O homem caiu morto no meu pé, e os cães
pularam naquele corpo.
Meu estômago começou a doer, meus olhos encheram de
lágrimas, mas não conseguia chorar. Peguei uma rua paralela, e enquanto saía
dali, percebi o porquê das pessoas preferirem a ignorância. Não é maldade, é
instinto de sobrevivência.
Mas me perguntei, e durante todo tempo me pergunto: por que
será que eles ignoram as chagas, o sangue e os gritos, mas idolatram a cruz?
Será que eles reconhecem os sonhos perigosos para a ordem pública?
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