O Vento bate na minha janela sem pudor. Ele canta. Bate a porta. Me assusta.
Eu me enrolo no edredon. Enfio minha cara entre os travesseiros. Tento me proteger.
O Vento falou comigo. Me disse que já era hora de partir. Que existiam outras janelas.
Um alivio breve tomou conta de mim. Não ficaria mais assustada. Mas ai ele foi. E eu me senti só. Parece que as coisas que me assustam me fazem companhia. Talvez meus medos sejam meus companheiros mais fiéis. Afinal, eu nunca parei de os sentir.
Então o silencio tomou conta do meu quarto. Não tinha mais aquele uivo sinistro. Não tinha mais medo. Não tinha mais nada. A luz continuava apagada, como se todo de Thomas Edison fosse inútil.
Estava escuro, silencioso e vazio. E eu comecei a sentir falta do Vento. Era uma forte angústia de quem se sente só. De quem tem medo de ficar só. Mas antes eu sentia medo dele. E agora meu medo é ficar sem.
O Vento cantava pra mim Sérénade Mélancolique, com todas as notas bem executadas em seus sopros firmes e cortantes, como as cordas de um violino. Mas, eu, só o ouvia barulho. Um uivo medonho e feio.
Eu tentei assobiar as notas. Tentava lembrá-las, mas não era possível. Eu não tinha prestado atenção. A vontade de escutar só apareceu depois que tudo emudeceu.
Eu levantei olhei pela janela e a paisagem era estática. Não tinha mais meu vento lá fora. Os poucos pingos de chuva que ainda faltavam cair, caíam perpendicularmente ao chão sem desviar um milímetro sequer.
Deitei-me novamente, ainda na esperança dele voltar.
Estou aqui agora... esperando...
Um comentário:
Que delícia!
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