segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Pixel deletado

Eu te vejo numa tela que eu pintei de pixels. E cada dia eu tento apagar um ponto.
Mesmo assim, algumas vezes você reacende, como de propósito, estragando todo o meu trabalho. Eu passo. É a força que eu nunca tive tentando aparecer. Eu volto.
Saudade. Eu nunca deveria ter.

Te desenho como sempre fiz. Com medo de perder de vez o pouco que restou. O nada.
Em seguida apago todos aqueles pontos que eu fiz. E você, como se soubesse o que eu sinto, os apaga também. Solução prática que encontramos para não mais nos encontrar.
Você não parece mais existir fora da minha tela. Alívio.

Tento desligar de vez. Apagar de vez. Novamente passo. Você resurge aqui dentro. E eu não quero. Nã0 mais. Não quando na sua tela todos os meus pixels são pretos. Você me descoloriu. E nessa altura do campeonato já deve ter me apagado.

Mudo o frame. E deixo seus pixels sumirem da minha frente. Acompanhados da minha saudade. Numa tentativa desesperada de esquecer tudo que me faz mais feliz e mais triste.
Um dia a bateria acaba e desse mal eu não morro mais.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A Torre de Observação.

Daqui de cima eu te via, mas você não podia me enxergar. Ou não queria. Te incomodava o meu olhar e você sabia. Você insistiu olhar pro lado, com um esforço enorme. Eu não tinha o menor motivo pra me animar.

Daqui de cima, a princesa gritava socorro e ninguém a escutava. O vento fazia muito barulho e as nuvens escondiam o topo da torre. E ela não tinha o menor motivo pra se animar.
Foi quando ela disse: Vamos ser sinceras, está ficando tarde e ninguém vai nos achar.
Lá fora tudo parecia tão distante e o vento sussurrava tão alto quando uma banda.

Deve haver algum jeito de sair daqui. Ela disse. Mas não temos motivo pra nos animar.
Daqui de cima nunca ninguém me viu. Eu apenas consigo observar tudo que acontece lá fora. Mas não me percebem. Não me escutam. Não me olham.

Daqui de cima podemos ver sem ser vistas. Podemos assistir a festa, mas nunca nos animar.
Uma torre como esta serve apenas para observação, sem a menor chance de sair. A menos que você descubra a maneira de nos tirar daqui.

Daqui de cima nós víamos dois cavalheiros se aproximando. Mas como a animação já não existia, nem fizemos questão de nos manifestar. No fundo queríamos que eles nos tirassem dali, mas era mais fácil continuar a beber aquele vinho quente. Afinal, ter esperança, cansa.

Daqui do alto pode se ver tudo e fazer o quiser que ninguém ouve. Embora a princesa se sinta cansada da solidão. Ela ainda não entendeu que simplesmente observar pode ser participar da festa.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Busque Amor, Novas Artes, Novo Engenho

"Busque Amor novas artes, novo engenho,
Para matar-me, e novas esquivanças;
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que n'alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei porquê."

Camões.


Há na certa um não sei quê que dói não sei porquê. Mas, na dúvida do porquê eu achei, aquilo que não procurava. Aquilo que era diferente, que era novo. E que acima de tudo era eu. Eu vi minhas perigosas seguranças. E quando disse que não temia contrastes e nem mudanças, eu menti. Mas, no fundo o temor é a sombra do desejo. Desejo de mudar. De ir pra longe. De andar em bravo mar.

Sei que meu amor foi um mal. Matou e eu não vi, ou não quis ver. Morri por amor mil vezes. E por mil vezes o amor me ressuscitou. Já não tenho esperanças, e não me falta. Vai que é certo que como eu, em algum dia tua alma vai se encher de um não sei quê, que nasce não sei onde, vem não sei como e dói não sei porquê.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Eles são muitos, mas não podem voar


É indescritível a saudade
Da sua risada
Das suas piadas
Do seu braço comprido
Seus segredos
Meus segredos
Não os conto a ninguém

Muitos deles falaram
Aquilo que juramos guardar
Eu os odeio
Você não se orgulharia
Mas sobre todas as coisas
As da minha vida
As do mundo
Existe algo que importa muito mais
Eu te amo

Todo dia, toda hora
Como se você estivesse aqui
Me dando motivo pra te amar
Você sabe que ter ido
Não é um motivo pra eu te amar mais
As vezes isso me irrita muito
Como sempre você conseguiu uma maneira
De me tirar do sério
O que me deixa mais triste
Não posso mais brigar com você

Eles te expuseram
Como se conhecessem
Eles não conheciam
Não, como eu
Não sei porque
Nem entendi a graça disso
Não aprenderam com a gente
A rir de verdade
A amar de verdade
A apoiar até quando tá tudo errado
A sonhar com coisas melhores
A passar o tempo sem ver o tempo passar
A voar

Saudades, irmão
Minha vida
Meu amor
Minha graça
Minha companhia
Meu par

terça-feira, 5 de outubro de 2010

.

Nunca! Sempre! e você disse tudo isso.
E a rosas não cheiravam mais.
E a vertigem era demais pra se manter em pé.
E eu nem sentia mais a chuva.
E os beijos não aconteceram.
E o grito não saia mais.
E a morte tinha preguiça de me terminar.
E o copo não quebrava mais.
E o som não tocava.
E gasolina não era tão barata.
E não se vendia palavras-cruzadas.
E as pedras não pesavam mais que papel.
E seus olhos não produziam lágrimas.
E minhas lágrimas não cessavam.
E os lenços acabaram.
E os lençóis rasgaram.
E a cama não fazia mais barulho.
E o sopro não fazia mais cócegas.
E os olhos já não enxergavam.
E a vida tinha preguiça de me continuar.
E tudo porque você disse SEMPRE e NUNCA
E tudo porque você não sabia que sempre e nunca era a mesma coisa.

domingo, 12 de setembro de 2010

O retrato da mulher sem EU!

Eu podia ser EU. Mas não sou. Não sou porque não quero. Porque EU é pouco demais. Ou pouco. Ou demais. Ser EU é ser somente um. Um que talvez eu ame, mas de todo. EU não é tu, nem nós. É somente EU...primeira pessoa do pronome pessoal do caso reto. Nem sei porque diabos deram essa nomenclatura para EU. Como se eles conhecessem EU.
Acho essa história de ser EU muito pobre. Prefiro ser ELES ou VÓS. TU eu não queria ser. TU também é pouco. TU é o EU do lado de fora. Ser EU do lado de dentro já é tão difícil, imagine do lado de fora. Tampouco, queria ser ELE. ELE é o EU que eu não conheço. E nem quero.
Talvez eu fosse NÓS. Mas NÓS são dois EUS. E eu já disse que EU não quero ser.
Sabe, se pudesse inventar outra pessoa pra conjugar os verbos eu inventaria. E seria JULIA. Ser JULIA não é ser EU, nem TU, nem ELES. JULIA conjugaria todos os verbos. Sem ter que entender que loucura é essa de ser EU.
Queria ser gramática, para poder inventar JULIA. Que seria sem pretensão de ser EU, TU, ELE, NÓS, VÓS ou ELES. Seria somente JULIA. Sem análise sintática.
Sei que me entenderia bem com JULIA.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

A Revolta da Vênus de Milo


Você me deu um anel de ouro. Disse que ele era para selar nosso compromisso.
Ai você me expôs num pedestal, num quadro. Para que todos pudessem me ver.
Você me enquadrou, de forma que eu coubesse dentro do seu quadro pequeno e mal pintado.
Meu nome não é Gioconda. Você não é Da Vinci. Definitivamente.
Oi, não sou estátua. E tanto não sou que estou tirando esse anel cafona do meu anelar esquerdo. Cansei dessa janela inútil onde vejo um mundo que não me pertence, mas me quer alucinamente. Como um dia você pareceu me querer. Talvez queira. Mas para enfeite.
E enfeite não se usa. Enfeite depois de um tempo enjoa. E meu amor, eu não nasci pra isso. Eu já não gostava dos bibelôs que vovó tinha na sala, e olha que ela era uma velhinha bem parceira. Então só para seu governo. Pare com isso. Ou vai se arrepender. Não é uma ameaça. É um aviso. Todo ser humano é passível de erro, mas a permanência é o que transforma a gente em estátua. Querido, eu errei ao achar que você iria arrancar a minha roupa, e conversar horas a fio comigo no banho. Mas cansei dessa histórinha de boa esposa que faz bolinhos e recebe os amigos em casa na sexta a noite.
Porra! Não dá mais pra mim. E essa baboseira de que você se intimida com a minha beleza é a desculpa mais esfarrapada da vida.
Me trate como mulher, humana, carne, osso, sangue, sexo. Sem mármore, sem tinta, sem tela. Eu. Aqui. Ou então, a Vênus aqui vai jogar a aliança no ralo.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

O momento imóvel

De repente, não mais que de repente. Ele acontece. Um segundo. Um segundo que você jamais poderia poderia perceber, se não fosse por tudo ter mudado. Uma fração de tempo invisível, mas não pra você. É aquele milésimo em que tudo acaba, tudo. Onde você muda e nunca mais volta a ser o que era. Aquele segundo que seu coração bate tão forte que é possível sentir o sangue sob a pele.
Aquele instante onde você descobre que já não é o que era, que já não tem o que tinha.

O momento que perde algo irreparável. Insubstituível.
Nada será como era antes. Nem você. Nem o mundo a sua volta.
Você não vai esquecer esse segundo. Mesmo que tudo volte a ficar bem. Mesmo que a vida siga. Esse segundo é inesquecível.

A gente não espera, não acredita, mas ele vem. Uma, duas... quantas vezes a vida achar conveniente. Esse momento chega, roubando partes da nossa vida. Da nossa história. Mudando quem somos, sem pedir licença. Não adianta lutar contra. E nem temê-los. Eles simplesmente existem. Como se fossem datados, planejados.

É impossível prever. E se fosse não seriam sustos. Não seriam arbitrários, nem tão radicais. Mas é esse seu dever. De arrancar tudo o que já estava construído. De nos forçar a mudar. Dizem até que é para dar mais emoção a vida. Não são bons. Não trazem boas recordações. Mas as coisas boas não chocam. Não imperam. Talvez devessem.

O momento imóvel gera o drama. Que gera a desordem. E o fim. É o fim. Fim de algo que até agora existia. Nos pertencia. Nos completava. Depois é difícil continuar. Saber o que fazer. Não existe um manual para se lidar com isso. Os minutos após são de assimilação. É meio como se seu corpo ainda tivesse se adaptando a nova situação. De repente você para. E se dá conta do que perdeu. Seu melhor amigo. O amor da sua vida. Sua mãe. Seu avô. Seu tio. Percebe o grande buraco que abriu quando aquele segundo aconteceu. As vezes demora e o desespero, a tristeza só acontece depois.

Odeio momentos assim.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Ai que saudade de ocês!




Não se admire se um dia
Um beija-flor invadir
A porta da tua casa
Te der um beijo e partir
Fui eu que mandei o beijo
Que é pra matar meu desejo
Faz tempo que eu não te vejo
Ai que saudade de ocê
Se um dia ocê se lembrar
Escreva uma carta pra mim
Bote logo no correio
Com frases dizendo assim
Faz tempo que eu não te vejo
Quero matar meu desejo
Te mando um monte de beijo
Ai que saudade sem fim
E se quiser recordar
Aquele nosso namoro
Quando eu ia viajar
Você caía no choro
Eu chorando pela estrada
Mas o que eu posso fazer
Trabalhar é minha sina
Eu gosto mesmo é de ocêS

(musíca de Geraldo Azevedo)

Saudades absurdas!!! Amo demais! Só faltou meu pepeto, Heitorzinho que tava mimindo no banco de trás!

Meu gingado é carioca, mas meu coração é Potiguar!

domingo, 8 de agosto de 2010

Tocando em frente!



Me procuro a cada instante. Não para me achar.
Corro atrás da minha felicidade. Mas minha maior felicidade é correr.
Choro de saudade. Só sinto saudade do que me faz sorrir.
Sou capaz de fazer coisas incríveis. E incrivelmente, me acho incapaz.
Lembro de tudo, quase todo dia. E vivo esquecendo do amanhã.
Tenho a sensação de que já vivi muito. E tenho a certeza de que não vivi nada.
Amo tudo o que me faz mal e mal conheço o que me faz bem.
Escrevo com a mesma vontade que canto.
E tão honestamente, confesso que não sei fazer nenhum dos dois.
Encontro minha paz em todos os dias que luto contra mim mesma.
Conheço tudo que sei, e conheço também tudo aquilo que não sei.
Vou parando por aqui, e por aqui continuo.
Porque amanhã é meu passado, e meu ontem é futuro.

sábado, 7 de agosto de 2010

Bonito demais!




Meus ombros puxam minha cabeça que me arranca um belo sorriso. Bem no canto da boca. Para não atrapalhar a canção que tímida sai. A cintura acompanha e logo após os quadris não se seguram.
As pernas vão se mexendo, bobas, encabuladas. O medo de não parecer idiota logo aparece. Mas, eu nem ligo. Continuo imitando as ondas, ritmadas por essa linda música!
Perco parcialmente o controle sobre meu corpo. Algo maior me alcança. Algo muito maior do que eu. A melodia é soberana. Eu esqueço todas as minha limitações. E aqui no canto eu danço, sozinha, calmamente animada. Esperando a hora de você chegar e me puxar para o meio do salão.
Coisa que você faz 30 segundos depois que eu começo. E não para jamais. Até a noite acabar! Eu, você e a música. Você, a música e eu! Nada mais!
Sei que todo disco tem um fim. Não me importo que ele acabe, desde que eu possa dança-lo com você.
Suas mãos conduzem minha cintura, suas coxas se enroscam nas minhas, sua mão agarra a minha com firmeza. E ali estamos, apaixonados. Pela dança, pela música, pelo corpo.
Imaculados pela voz de Geraldo Azevedo. Um corpo, apenas. Tentando se mexer sem parecer bobo!

domingo, 27 de junho de 2010

Vazio




Já não posso medir com as minhas mãos a angústia que é não te ter aqui.
Já não posso mais elaborar mentiras pra me convencer que eu fico bem sem você.
Já não posso mais.

Eu queria te dizer que eu não sei nem mais dizer o que é viver sem você.
Me desculpa, Moço.
Já não queria mais me sentir assim, eu juro.
Eu juro que queria esquecer que te amo. Porque até mesmo esquecer que você existe é assinar a sentença do vazio perpétuo. Vazio que ocupas por inteiro.

Moço, já não tenho alma. Ela te acompanha a todo tempo. E eu fico ainda mais vazia.
Já não sinto vontade de me desculpar. Não é minha culpa ser parte de ti.
Não me faça parte condenada do teu eu. Eu preferia a morte do que uma vida pela metade.
Por favor, não me faça insistir mais. Eu não tenho mais forças para gritar teu nome.

Não me faça implorar, porque eu imploro. Mas não quero fazê-lo.
Meu amor, não me jogue a um destino cruel. Não se deixe levar por ele.
Fica, volta. Eu to aqui. Te esperando. Ainda. Torta. Acabada. Esperando.
Por tudo o que eu preciso. Você.

quinta-feira, 24 de junho de 2010




Ai, você tava lá... me esperando. Eu parei do seu lado. E você com a cara mais lavada fingiu que me conhecia tão pouco. Foi o seu nariz tocar minha pele. Seu olhos mudaram, ganharam um brilho parecido com o da lua que iluminava a gente. Você finge muito bem que não me ama. Mas seus olhos te condenam. Eles, desesperadamente, gritam o meu nome. E você se confunde. Me confunde.

Você se cala. Com medo das palavras sairem da sua boca como saem dos seu olhos. Eu me escondo atras das minhas brincadeiras de muleca. E apenas nossos olhos conversam. Até que os dois pólos mais atrativos da terra se grudam de tal forma, com tal força que nem mesmo Newton conseguiria calcular. Teu peito, minha cintura. Suas costas, minhas mãos.

Ai já nos conhecemos como os velhos amantes que somos. Você me abraça demonstrando toda a saudade. Eu te olho demonstrando toda paixão. Sua mão não solta da minha. Seu nariz não desgruda da minha nuca. Seu corpo esquenta o meu. Seu coração controla meu ritmo. A gente não consegue perceber, mas já estamos cantando e dançando.

Já não é preciso nem pensar. Eu te amo? Não lembro. Já não posso pensar nada perto de você, já que deixo de existir. Eu não sou eu. Sou você. E me amo por isso, apenas.
Ai, você vai embora... para de falar. Seus olhos perdem o brilho. Me esquecem.
Um buraco se abre em peito. Mas apenas quando eu abro os olhos. Coloco vendas nos meus olhos, começo a cantar nossas músicas. Até consigo escutar sua voz. O buraco deixa de existir.

Assim, eu espero todos os dias... você voltar e me devorar!

terça-feira, 15 de junho de 2010

Sensações indizíveis!

Eu abri a porta da varanda para deixar o frio entrar. Em um minuto eu estava completamente gélida. Para alguém que sempre gostou tanto do calor, eu me perguntei o que mudou. Por que eu amo essa sensação de congelamento? Estranho...
Eu fechei... e esperei até sentir meu sangue circular novamente. Senti o rubor da minha face. E ele pouco significou. Eu ainda sentia muito frio. Me parecia que a porta ainda estava aberta e que aquele vento brando e congelante não tivesse cessado. Eu sentia o sangue. Eu sentia que ele estava ali irrigando-me fielmente como de costume. Mas não era um sangue quente. Era frio. Como a noite lá fora. Eu via uma lua brilhante que iluminava tudo, apenas eu ficava na penumbra. Inaquecível.
A sensação era agradável a minha cabeça, era como se por um curto tempo todos os meus pensamentos tivessem congelado. Mas meu corpo gritou, num espasmo súbito: Me esquente!
Eu obedeci. Mas a vontade de reabrir a porta ainda era grande. A vontade de não sentir mais nada. Enquanto o frio era grande eu nem conseguia senti-lo. Era absolutamente insensível. Não ouvia, não via, não falava e não sentia. Nem meus pelos ousavam arrepiar. Nada. Era um corpo estático, uma mente vazia em frente a uma porta de varanda aberta, observando uma lua, a qual nem conseguia enxergar. Talvez naquele momento até meu coração tenha congelado e parado de bombear meu sangue. Foi pouco tempo. E agora eu estava com frio. E ainda que eu gostasse do frio, não conseguia entender o porquê.
Talvez tenha sido a sensação de morrer por segundos, talvez por um segundo eu tenha realmente parado. Não sei, ao certo, o que aconteceu para amar tanto esse frio. Que até incomoda um pouco, mas me gela provocando sensações indizíveis.

sábado, 5 de junho de 2010

Uuuuu....

O Vento bate na minha janela sem pudor. Ele canta. Bate a porta. Me assusta.
Eu me enrolo no edredon. Enfio minha cara entre os travesseiros. Tento me proteger.
O Vento falou comigo. Me disse que já era hora de partir. Que existiam outras janelas.
Um alivio breve tomou conta de mim. Não ficaria mais assustada. Mas ai ele foi. E eu me senti só. Parece que as coisas que me assustam me fazem companhia. Talvez meus medos sejam meus companheiros mais fiéis. Afinal, eu nunca parei de os sentir.
Então o silencio tomou conta do meu quarto. Não tinha mais aquele uivo sinistro. Não tinha mais medo. Não tinha mais nada. A luz continuava apagada, como se todo de Thomas Edison fosse inútil.
Estava escuro, silencioso e vazio. E eu comecei a sentir falta do Vento. Era uma forte angústia de quem se sente só. De quem tem medo de ficar só. Mas antes eu sentia medo dele. E agora meu medo é ficar sem.
O Vento cantava pra mim Sérénade Mélancolique, com todas as notas bem executadas em seus sopros firmes e cortantes, como as cordas de um violino. Mas, eu, só o ouvia barulho. Um uivo medonho e feio.
Eu tentei assobiar as notas. Tentava lembrá-las, mas não era possível. Eu não tinha prestado atenção. A vontade de escutar só apareceu depois que tudo emudeceu.
Eu levantei olhei pela janela e a paisagem era estática. Não tinha mais meu vento lá fora. Os poucos pingos de chuva que ainda faltavam cair, caíam perpendicularmente ao chão sem desviar um milímetro sequer.
Deitei-me novamente, ainda na esperança dele voltar.
Estou aqui agora... esperando...

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Eu peço perdão. Ainda que eu quisesse tentar explicar, não consigo.
Não implique esse julgamento. Tá ficando ser difícil ser quem eu sou.
E não tem ninguém aqui pra ajudar.

Eu sei que você não entende, mas nem eu entendo. Mas para de tentar também. Eu já desisti, queria que você fizesse o mesmo.

Não me chame de louca. Nem ache que eu dificulto as coisas. Essa é a maneira mais simples que eu achei. Pode ser diferente da sua. E é. Mas não me chame de louca.

A minha tristeza não vem da minha incompreensão. Não faço questão que ninguém entenda.
Eu só preciso que parem. Parem de querer que eu seja feliz o tempo todo. Eu não consigo. Mas não há necessidade de você me chamar de depressiva.

Eu não to me escondendo. Eu não estou me culpando. Eu não estou me castigando.
To sendo eu. Só. E me bastando da maneira que posso.

Me perdoa por te confundir. Não foi a minha intenção.

domingo, 30 de maio de 2010

Ilegais!



- Desse jeito vão saber de nós dois.
- Do que você está falando? É o jeito que eu te olho?
- É o jeito que você sorri pra mim.
- Eu não consigo evitar. Me desculpa. Você é tão linda que me dá vontade de rir.
- Assim eu não consigo pedir pra você parar.
- Nem que você pedisse com todo seu charme, eu jamais conseguiria.
- Ah! Pára com isso. É sério. Você me olha como se já tivesse me visto nua.
- Mas eu já te vi nua. E confesso que toda vez que fecho os olhos eu continuo vendo.
- Tá errado. Para com isso... vão nos descobrir.
- E dai?
- E dai? Meu marido te mataria.
- Morrer por você é algo que eu faria com o mesmo sorriso que eu te olho.
- Pára...
- Não paro!
- Eu preciso que você pare. Eu preciso parar.
- Eu sou ilegal. E você tá cometendo um crime gravíssimo.
- Você é ilegal. E é por isso que é tão delicioso.
- Eu não consigo mais ficar longe de você. E não consigo mais disfarçar. Eu quero você. Toda hora. Todo dia. Toda! Esquece o resto. Fica comigol. Só comigo.
- Eu não posso. Eu sou casada.
- Mas o que a gente tem é muito maior do que o que você tem com ele.
- HAHAHAHA!
- Do que você tá rindo?
- De você. Eu te amo. Mas eu não vou me separar do meu marido. Eu te amo porque você é meu amante. E só por isso eu te amo.
- É isso que eu sou pra você?
- É, e isso é muito bom. Aproveite.
- Mas... eu te amo.
- Eu sei, eu também. Eu amo você e não ele. E não quero que saibam da gente.
- Você me ama e não quer que ninguém saiba?
- Sim. É isso. Se as pessoas soubessem, eu pararia de te amar.
- Você é louca!
- E é por isso que você sorrir toda vez que me olha.
- Provável, meu amor!
- Então, pare de sorrir e me beija.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Demais...


São os exageros. Eu sinto que eles tomaram conta de mim.
Me fizeram forte e fraca. Grande e pequena. Intensa e superficial.

O teu exagero. É impossível descrever. Eu os sinto pesados em mim.
Me fizeram triste e feliz.

Eu, você. E todo resto que criamos. Nada do que esperamos. E tudo aquilo que desejamos.
Foi teu sonho, minha realidade. Teu desespero, minha saudade.

E aquela gargalhada alta, exagerada.
E aquelas noites mal dormidas entre gritos, sussurros e roncos.
E aquele ódio ardente.
E aquela paixão intrínseca.
E aquele desejo permanente de te servir. De me servir.

Foi tudo grande... efêmero.
E eu sinto que amanhã nem lembrarei de tanto.
Porque hoje o exagero tomou conta de mim.

E aquele amor me pareceu eterno e infinito.

E por isso. E só por isso. Hoje eu morri.
Porque amor demais pode me matar.





terça-feira, 11 de maio de 2010

Era uma vez...


Era uma vez... uma menina que acreditava.
E deixou de acreditar.
"É verdade? Acabaram os felizes para sempre?"
E então, lhe responderam: "Menina, eles nunca existiram."
"Como não? Mas sempre me falaram..."
Ela continuou indignada. Como poderiam ter sido tão mentirosos com ela. E as estórias que ela ouvia quando criança? E o amor que ela sempre sonhou encontrar? Era realmente tudo mentira.
Não existia príncipe, nem castelo e muito menos um cavalo branco.
A menina riu. Ela amava todas aquelas estórias e custava-lhe acreditar que todas não passavam de farsas. Não poderia viver em um mundo onde existe um fim pra felicidade.
Ela não conhecia a outra estória. Ela não sabia que o príncipe encantado tinha saído de moda. Não tinha a menor idéia que felicidade é o caminho e não o fim. Ela não sabia que não é sofrer o tempo pra ganhar um beijo no final. Ela não tinha a remota idéia que os sapos são muito divertidos. E tampouco, desconfiava que se você procura o final feliz perde toda a diversão de não procurar nada. Não existe contos de fadas. E assim como foi difícil aceitar que Papai-Noel não existia, é ainda pior acreditar que não existe nenhum príncipe num cavalo branco.
Gostaria de saber porquê se passou tanto tempo enganando a pobre menina. Queria entender pra que fazê-la passar por tudo isso. Enfim... encontrei com a menina outro dia na night. Ela disse que chorou uns dias, ficou depressiva. Ai como viu que ninguém iria salvá-la, ligou para umas amigas e foi se divertir. Ela disse que tá se divertindo, mas que as vezes ainda sente um vazio. Eu disse: Bem-vinda ao meu mundo, amiga!

domingo, 25 de abril de 2010

Primeiro foi o abraço que aqueceu o que por tempos estava gelado.
Depois foram os olhos que me atingiram, dizendo verdades impossíveis.
E então aquele beijo. Que nem me lembro como foi.
Você sabe muito bem, porque eu tenho aquela mania de esquecer a melhor parte.
Ai fez aquele silêncio, que pra muitos seria constrangedor, mas pra gente é a melhor forma de comunicação. O seu coração batia tão forte. A sua pele, ainda do jeito que eu lembrava. E o seu sorriso, a parte do mundo que eu mais gosto.
Já que não tiveram provas e ninguém te viu, eu me pergunto... foi real?
Eu tenho medo de ter certeza. Talvez seja melhor como sonho... fica mais bonito.
Algumas coisas são feitas pra existirem... e eu não posso evitar pensar que você é uma delas.
A sua mão, o seu braço forte, o seu cheiro que me corta... é meio impossível isso tudo existir.
Mas não consigo me convencer de que você é um sonho.
Ai, me lembro da sua voz, das suas palhaçadas, do seu jeito de se achar(tão charmoso), do modo que você enxerga tudo, absolutamente, tudo. E quando ainda sinto aquele nervoso quando você está por perto, me convenço que é essa a realidade.
E que eu sou por feliz por ela ser desse jeito. De poder me manter longe de você. Porque quando você fica perto é tudo de caber imaginar.

domingo, 18 de abril de 2010

O silêncio tomou conta. E logo minha cabeça começou a doer.
Era como se o barulho fosse tão alto que era impossível ouvi-lo.
É lastimável não saber mais como viver assim. É absurdo o vício de ouvir.
E quais sons são esses? Quem fala? Quem toca? Quem? Quais são as vozes do silêncio?
E por que é necessário que as escutemos?
São estouros ensurdecedores que atingem minha cabeça. Não consigo.
Não consigo mais ouvir! É inútil e eu prefiro a dor de tentar não escutar.
Eu quero o silêncio. Eu quero o silêncio real.
Acabem logo com essa poluição sonora.
Parem! Por um minuto! Parem de falar! Parem de escutar!
Aproveitem o silêncio! Chega desse ruído! Eu não aguento mais!

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Por hoje tudo bem...

Meus amigos dizem que o tempo tá passando
Meu relógio diz o mesmo
Mas sem você aqui o tempo
N em parece passar por mim
Eu sei que você saberia que
Um amor como o seu e o meu
Sempre faz falta
Mas por hoje tudo bem
Hoje tudo bem
Me alimentando de minhas preces
As vezes nem ligo pra o que Deus disse
Porque o amor é uma causa perdida
Mas por hoje tudo bem
O sol queimou pele
O ar fresco da manhã é fino
A água salgada está abaixo dos seus pés
E você longe de mim
É ai que você está
A vida é insana
Mas eu achei que
Por hoje estaria tudo bem

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A minha agonia começa quando aparece o meu maior sonho. Ele vem chegando do jeito que eu gosto, com o cheiro que eu amo e o gosto que me enlouquece.
Arranca meu maior sorriso, meu maior suspiro e acelera meu coração.
Meu sonho não se realiza. Ele fica ali entre o dormindo e o acordado, esperando, criando coragem pra se tornar real. Meu sonho tem medo de se mostrar, de se fazer realidade.
É dificil acordar e ver a realidade, assistir meu sonho voltando pra noite e levando com ele a parte da minha alegria que só ele tem. Minha mania de catar cílios, estrelas cadentes ou qualquer outra coisa que me dê a oportunidade de desejar, anda a cada dia mais e mais descrente.
Porque a covardia do meu sonho não tem mais tamanho.
E agora volto a rezar, pedindo noites sem sonho.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Por que as vezes tenho a súbita impressão de que todas as músicas foram escritas pra mim?
Por que de repente entendo o sentido de coisas que antes me pareciam tão tolas?
Seria isso crescer, aprender? Ou seria apenas conhecer certas dores e felicidades que essa vida nos trás? Talvez seja, exatamente, isso crescer. Sobre o que exatamente os poetas falavam nunca iremos saber, mas acho que é bem visível o fato de que os seres humanos são bem parecidos.
Quando ouço a seguinte frase: "De repente do riso fez-se o pranto" não necessariamente Vinicius estava pensando na mesma tristeza que sinto em certos momentos, mas, com certeza, houve uma mudança tão arrebatadora quanto essa. Não sei dizer, nem quero saber o porquê de me sentir tão íntima das palavras e das dores. Talvez seja essa minha grande felicidade e também minha grande infelicidade, essa de procurar entender a tudo e a todos. Enfim, pelo menos sinto uma inútil e falsa certeza de que sou mais sensível de que tudo nesse mundo. E pior que isso, sinto a súbita e ridícula impressão de todas as músicas foram escritas pra mim.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Todas as coisas do mundo tem apenas 50% de chance de darem certo. É assim com todo mundo, pra mim, pra você e até pra quem você acha que conquista tudo na vida. O que faz os 50% acontecer? A nossa capacidade de lidar com as situações. Até uma brilhante tem que lidar com isso. E sinceramente 50% é uma grande possibilidade de falha. Pois bem, quando falhamos em algo, é possível que não tenhamos feito o suficiente, que não tenhamos feito tudo, ou simplesmente caímos no percentual da falha. E isso é como ganhar na loteria, porque sim, depende de sorte e não só talento. Não se ache uma pessoa azarada se as coisas na sua vida derem errado, com certeza você não deve estar sabendo usar os seus 50%. E não se ache uma pessoa totalmente brilhante se tudo dá certo, a sorte é algo bem traiçoeiro. Minha opinião para o sucesso: agarre as oportunidades e se elas não derem certo, siga adiante. Nunca fique preso em um obstáculo, e sempre se lembre você tem 50% de chance. E isso é muita coisa! Boa sorte!