Hoje eu vou escrever para os andarilhos, para as pessoas que
caminham para alcançar as estrelas.
A verdade é que não sei escrever, mas há uma razão e um
sentido para faze-lo.
No meu coração o que eu falo faz sentido, porque tudo isso
me deixa mais próximo daquilo que eu busco.
Vivi durante quinze dias em Buenos Aires, não viajei para
Buenos Aires. Vivi quinze dias aqui. E cheguei a conclusão que lar é aquilo que
a gente sente, é o que a gente olha, é o que a gente é diante do outro, do que
nos cerca.
Lar é a natureza, e não há uma natureza humana, há natureza,
apenas.
Lar é o que te encanta, casa é o que você ama.
Meu lar são os caminhos que eu tomo. E os sons que me guiam
até uma nova estrada. Se eu aprendi alguma coisas nesses dias aqui, foi isso.
Eu sou a minha casa, o mundo é a minha casa. E tudo que se
move sou eu.
Pertenço ao mundo e o mundo todo me pertence. E pertencimento é aquilo que você sente
quando não existe o outro, quando você vira todas as pessoas do mundo. Só a
partir daí, pode existir compaixão.
Hoje eu sou a mãe do Douglas e a menininha que brinca com as
plantas no jardim.
Mas não posso ser um policial que bate em quem tem sonhos.
Há algumas coisas que nos pertencem, outras devemos
abandonar.
Nas ruas há todo tipo de coisa, boas e ruins. Há o que nos
liberta e nos aprisiona.
Mas só olhando e sentindo as ruas podemos pertencer a todo
tipo de gente.
Isso não significa compartilhar de suas maldades e de suas
mentiras.
O meu lar é esse mundo novo que eu ajudo a construir.
Não levo comigo as mazelas dele.
Denuncio-as, para acabar com elas.
Caminho, para encontrar estrelas.
E sigo, caminhando, cantando, falando, chorando.
Sendo. Humana. Demasiada. Humana.