Sentou na calçada e acendeu um cigarro. Olhava perdida os
focos de fogo e fumaça que atravessavam a longa via. Pensou em chorar, mas
preferiu saborear o cigarro e guardou o choro. Olhava incrédula o que via.
O povo se vingara – pensou. Se vingara do que? Das mortes?
Da seca? Da fome?
Olhou a máscara que tinha tirado. E deu um trago.
Enquanto a fumaça menos tóxica descia a garganta sentiu
alívio. É melhor que gás, e sorriu.
Talvez o povo não estivesse ali por vingança - ela pensava
enquanto tentava distinguir a fumaça do seu cigarro e das bombas que puniam as
poucas árvores que resistiam a outras fumaças tóxicas poluentes.
Eles estão aqui porque querem mudanças, porque enxergam que
este mundo está grávido de um outro mundo que luta pra nascer. E essas são as dores do parto desse novo mundo.
Por isso, não temia os barulhos que vinham de todos os lados. Nem piscava, fumava apenas como se a rua pudesse protegê-la.
Por isso, não temia os barulhos que vinham de todos os lados. Nem piscava, fumava apenas como se a rua pudesse protegê-la.
Um mascarado passou, parou e perguntou: Você tá bem?
Ela não sabia, não mesmo. Poderia ter machucado algum lugar,
mas a adrenalina ainda não a permitia sentir. Poderia ter uma grande ferida
sangrando internamente. Poderia ter um coração partido, mas naquele momento ainda era cedo pra saber. Então, ela respondeu: Amanhã saberei. Quer um cigarro?
O menino respondeu, sorrindo, como se entendesse exatamente
o que ela sentia:
Não fumo não, brigado!! Vamos sair daqui, não fica sozinha
não, é perigoso.
Ela sabia que era. Sabia que era preciso levantar, mas
sentar na rua, com uma máscara no colo, fumando um cigarro era essencial pra
vida dela naquela hora. As gotas de chuva caiam levemente quase não molhava
nada.
E ela sabia que o céu encontrara o choro que ela tinha
guardado.
Vou ficar aqui, amigo! To fazendo um parto.
Ele riu, e disse: Vou sentar do seu lado e te ajudar então.
Os dois sentaram na calçada e assistiam as explosões. Juntos
pensaram, isso é comemoração. Uma nova era tá nascendo.
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