segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Busque Amor, Novas Artes, Novo Engenho

"Busque Amor novas artes, novo engenho,
Para matar-me, e novas esquivanças;
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que n'alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei porquê."

Camões.


Há na certa um não sei quê que dói não sei porquê. Mas, na dúvida do porquê eu achei, aquilo que não procurava. Aquilo que era diferente, que era novo. E que acima de tudo era eu. Eu vi minhas perigosas seguranças. E quando disse que não temia contrastes e nem mudanças, eu menti. Mas, no fundo o temor é a sombra do desejo. Desejo de mudar. De ir pra longe. De andar em bravo mar.

Sei que meu amor foi um mal. Matou e eu não vi, ou não quis ver. Morri por amor mil vezes. E por mil vezes o amor me ressuscitou. Já não tenho esperanças, e não me falta. Vai que é certo que como eu, em algum dia tua alma vai se encher de um não sei quê, que nasce não sei onde, vem não sei como e dói não sei porquê.