sexta-feira, 20 de agosto de 2010

A Revolta da Vênus de Milo


Você me deu um anel de ouro. Disse que ele era para selar nosso compromisso.
Ai você me expôs num pedestal, num quadro. Para que todos pudessem me ver.
Você me enquadrou, de forma que eu coubesse dentro do seu quadro pequeno e mal pintado.
Meu nome não é Gioconda. Você não é Da Vinci. Definitivamente.
Oi, não sou estátua. E tanto não sou que estou tirando esse anel cafona do meu anelar esquerdo. Cansei dessa janela inútil onde vejo um mundo que não me pertence, mas me quer alucinamente. Como um dia você pareceu me querer. Talvez queira. Mas para enfeite.
E enfeite não se usa. Enfeite depois de um tempo enjoa. E meu amor, eu não nasci pra isso. Eu já não gostava dos bibelôs que vovó tinha na sala, e olha que ela era uma velhinha bem parceira. Então só para seu governo. Pare com isso. Ou vai se arrepender. Não é uma ameaça. É um aviso. Todo ser humano é passível de erro, mas a permanência é o que transforma a gente em estátua. Querido, eu errei ao achar que você iria arrancar a minha roupa, e conversar horas a fio comigo no banho. Mas cansei dessa histórinha de boa esposa que faz bolinhos e recebe os amigos em casa na sexta a noite.
Porra! Não dá mais pra mim. E essa baboseira de que você se intimida com a minha beleza é a desculpa mais esfarrapada da vida.
Me trate como mulher, humana, carne, osso, sangue, sexo. Sem mármore, sem tinta, sem tela. Eu. Aqui. Ou então, a Vênus aqui vai jogar a aliança no ralo.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

O momento imóvel

De repente, não mais que de repente. Ele acontece. Um segundo. Um segundo que você jamais poderia poderia perceber, se não fosse por tudo ter mudado. Uma fração de tempo invisível, mas não pra você. É aquele milésimo em que tudo acaba, tudo. Onde você muda e nunca mais volta a ser o que era. Aquele segundo que seu coração bate tão forte que é possível sentir o sangue sob a pele.
Aquele instante onde você descobre que já não é o que era, que já não tem o que tinha.

O momento que perde algo irreparável. Insubstituível.
Nada será como era antes. Nem você. Nem o mundo a sua volta.
Você não vai esquecer esse segundo. Mesmo que tudo volte a ficar bem. Mesmo que a vida siga. Esse segundo é inesquecível.

A gente não espera, não acredita, mas ele vem. Uma, duas... quantas vezes a vida achar conveniente. Esse momento chega, roubando partes da nossa vida. Da nossa história. Mudando quem somos, sem pedir licença. Não adianta lutar contra. E nem temê-los. Eles simplesmente existem. Como se fossem datados, planejados.

É impossível prever. E se fosse não seriam sustos. Não seriam arbitrários, nem tão radicais. Mas é esse seu dever. De arrancar tudo o que já estava construído. De nos forçar a mudar. Dizem até que é para dar mais emoção a vida. Não são bons. Não trazem boas recordações. Mas as coisas boas não chocam. Não imperam. Talvez devessem.

O momento imóvel gera o drama. Que gera a desordem. E o fim. É o fim. Fim de algo que até agora existia. Nos pertencia. Nos completava. Depois é difícil continuar. Saber o que fazer. Não existe um manual para se lidar com isso. Os minutos após são de assimilação. É meio como se seu corpo ainda tivesse se adaptando a nova situação. De repente você para. E se dá conta do que perdeu. Seu melhor amigo. O amor da sua vida. Sua mãe. Seu avô. Seu tio. Percebe o grande buraco que abriu quando aquele segundo aconteceu. As vezes demora e o desespero, a tristeza só acontece depois.

Odeio momentos assim.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Ai que saudade de ocês!




Não se admire se um dia
Um beija-flor invadir
A porta da tua casa
Te der um beijo e partir
Fui eu que mandei o beijo
Que é pra matar meu desejo
Faz tempo que eu não te vejo
Ai que saudade de ocê
Se um dia ocê se lembrar
Escreva uma carta pra mim
Bote logo no correio
Com frases dizendo assim
Faz tempo que eu não te vejo
Quero matar meu desejo
Te mando um monte de beijo
Ai que saudade sem fim
E se quiser recordar
Aquele nosso namoro
Quando eu ia viajar
Você caía no choro
Eu chorando pela estrada
Mas o que eu posso fazer
Trabalhar é minha sina
Eu gosto mesmo é de ocêS

(musíca de Geraldo Azevedo)

Saudades absurdas!!! Amo demais! Só faltou meu pepeto, Heitorzinho que tava mimindo no banco de trás!

Meu gingado é carioca, mas meu coração é Potiguar!

domingo, 8 de agosto de 2010

Tocando em frente!



Me procuro a cada instante. Não para me achar.
Corro atrás da minha felicidade. Mas minha maior felicidade é correr.
Choro de saudade. Só sinto saudade do que me faz sorrir.
Sou capaz de fazer coisas incríveis. E incrivelmente, me acho incapaz.
Lembro de tudo, quase todo dia. E vivo esquecendo do amanhã.
Tenho a sensação de que já vivi muito. E tenho a certeza de que não vivi nada.
Amo tudo o que me faz mal e mal conheço o que me faz bem.
Escrevo com a mesma vontade que canto.
E tão honestamente, confesso que não sei fazer nenhum dos dois.
Encontro minha paz em todos os dias que luto contra mim mesma.
Conheço tudo que sei, e conheço também tudo aquilo que não sei.
Vou parando por aqui, e por aqui continuo.
Porque amanhã é meu passado, e meu ontem é futuro.

sábado, 7 de agosto de 2010

Bonito demais!




Meus ombros puxam minha cabeça que me arranca um belo sorriso. Bem no canto da boca. Para não atrapalhar a canção que tímida sai. A cintura acompanha e logo após os quadris não se seguram.
As pernas vão se mexendo, bobas, encabuladas. O medo de não parecer idiota logo aparece. Mas, eu nem ligo. Continuo imitando as ondas, ritmadas por essa linda música!
Perco parcialmente o controle sobre meu corpo. Algo maior me alcança. Algo muito maior do que eu. A melodia é soberana. Eu esqueço todas as minha limitações. E aqui no canto eu danço, sozinha, calmamente animada. Esperando a hora de você chegar e me puxar para o meio do salão.
Coisa que você faz 30 segundos depois que eu começo. E não para jamais. Até a noite acabar! Eu, você e a música. Você, a música e eu! Nada mais!
Sei que todo disco tem um fim. Não me importo que ele acabe, desde que eu possa dança-lo com você.
Suas mãos conduzem minha cintura, suas coxas se enroscam nas minhas, sua mão agarra a minha com firmeza. E ali estamos, apaixonados. Pela dança, pela música, pelo corpo.
Imaculados pela voz de Geraldo Azevedo. Um corpo, apenas. Tentando se mexer sem parecer bobo!