segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Pixel deletado

Eu te vejo numa tela que eu pintei de pixels. E cada dia eu tento apagar um ponto.
Mesmo assim, algumas vezes você reacende, como de propósito, estragando todo o meu trabalho. Eu passo. É a força que eu nunca tive tentando aparecer. Eu volto.
Saudade. Eu nunca deveria ter.

Te desenho como sempre fiz. Com medo de perder de vez o pouco que restou. O nada.
Em seguida apago todos aqueles pontos que eu fiz. E você, como se soubesse o que eu sinto, os apaga também. Solução prática que encontramos para não mais nos encontrar.
Você não parece mais existir fora da minha tela. Alívio.

Tento desligar de vez. Apagar de vez. Novamente passo. Você resurge aqui dentro. E eu não quero. Nã0 mais. Não quando na sua tela todos os meus pixels são pretos. Você me descoloriu. E nessa altura do campeonato já deve ter me apagado.

Mudo o frame. E deixo seus pixels sumirem da minha frente. Acompanhados da minha saudade. Numa tentativa desesperada de esquecer tudo que me faz mais feliz e mais triste.
Um dia a bateria acaba e desse mal eu não morro mais.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A Torre de Observação.

Daqui de cima eu te via, mas você não podia me enxergar. Ou não queria. Te incomodava o meu olhar e você sabia. Você insistiu olhar pro lado, com um esforço enorme. Eu não tinha o menor motivo pra me animar.

Daqui de cima, a princesa gritava socorro e ninguém a escutava. O vento fazia muito barulho e as nuvens escondiam o topo da torre. E ela não tinha o menor motivo pra se animar.
Foi quando ela disse: Vamos ser sinceras, está ficando tarde e ninguém vai nos achar.
Lá fora tudo parecia tão distante e o vento sussurrava tão alto quando uma banda.

Deve haver algum jeito de sair daqui. Ela disse. Mas não temos motivo pra nos animar.
Daqui de cima nunca ninguém me viu. Eu apenas consigo observar tudo que acontece lá fora. Mas não me percebem. Não me escutam. Não me olham.

Daqui de cima podemos ver sem ser vistas. Podemos assistir a festa, mas nunca nos animar.
Uma torre como esta serve apenas para observação, sem a menor chance de sair. A menos que você descubra a maneira de nos tirar daqui.

Daqui de cima nós víamos dois cavalheiros se aproximando. Mas como a animação já não existia, nem fizemos questão de nos manifestar. No fundo queríamos que eles nos tirassem dali, mas era mais fácil continuar a beber aquele vinho quente. Afinal, ter esperança, cansa.

Daqui do alto pode se ver tudo e fazer o quiser que ninguém ouve. Embora a princesa se sinta cansada da solidão. Ela ainda não entendeu que simplesmente observar pode ser participar da festa.