domingo, 6 de abril de 2014

Mulher de preto e rosa

Contava os segundos a moça de preto e rosa do lado de fora do café. Olhava em direção a subida da ladeira, e novamente olhava o relógio com um propaganda de refrigerante que ficava no passeio da rua.

Fazia frio, muito frio. O termômetro do mesmo relógio marcava seis graus celsius, mas talvez a sensação fosse de um grau ou menos. O vento cortava, mas a moça não saía da calçada. E não parava de buscar.

Meio-dia – anunciou o relógio.

Ela parecia ficar ainda mais inquieta. Seu pescoço balança, confuso, entre a ladeira e o relógio.

Me perguntei se ele viria. Ou talvez ela.  Me perguntei a quem ela esperava.
Talvez ela não esperasse ninguém. E meu coração começou a apertar.

Pedi, então, um segundo café, para me assegurar que não congelaria na rua.

O relógio marcou “12:15”, a mulher de rosa e preto batia o salto no chão, incessantemente. Era já um atraso rude, e pela janela, vi sua esperança desmanchar no chão.

Ela suspirou, olhou mais uma vez pro alto da ladeira que descia. Abaixou a cabeça, suspirou mais uma vez. Olhou de novo, com o resto de esperança que escorria de suas pernas.

Ninguém descia.

Engoli o que sobrou do café. Deixei o dinheiro na mesa. E saí.

Ela andava devagar, olhando pro chão, procurando suas esperanças derramadas.
Eu sem querer, ou por muito querer, esbarrei nela. E me vi em seus olhos.

Percebi que quem esperava era eu. Mas pelo que eu esperava?

Olhei o relógio. Guardei o café como desculpa.

E subi a ladeira.