terça-feira, 30 de abril de 2013

Dá-me, meu amor


Dá-me, meu amor, teus olhos
Para que eu possa enxergar
Qualquer coisa que tu sabes
Qual é.
Dá-me tua mão e me leva
Para essa vida tão curta travestida
De infinita.

Dá-me tua voz, amor meu,
Para que eu possa cantar
A cantiga que soa mais
Doce ao teu ouvido.
Dá-me teus braços
Para que eu possa me envolver
Dos teus abraços e sereno,
Repousar no teu colo.

Aquele colo que eu não quero
Para mim, que é teu, somente teu
Aberto, ansioso, à espera
Do meu corpo quente e trêmulo
Puro, só seu. 

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Hoje só por ser outono

Eu sentei aqui do lado de fora
Tem uma lua enorme lá em cima
E é outono.

A lua tem sido uma companhia fiel
Talvez a única.

Entre o chão e esse céu estrelado
tem eu,
e eu sou tão pequena.

Eu não encontro forma.

Uma folha caiu da árvore,
morta, seca, escura.
Mas pelo menos ela tem forma.

E eu? Apenas esse céu estrelado.
E a lembrança das tuas mãos.
Que nunca de fato existiram.

A folha não vai voltar.
Nem eu.


quarta-feira, 17 de abril de 2013

A licença de ser flor

















Tinha uma flor no meio do caminho.
Pedi "com licença (poética)" para falar dela.

Fiz um tratado com a Flor,
Era um tratado íntimo, indefinido e infinito.
Como se flores não precisassem de mais do que sua palavra
Ela assinou o tratado.

Por falar em flor, tratado e licença
encontrei uma Árvore no meio do caminho.
No sentido de ser árvore,
ela me disse que é preciso todo dia ser apenas
Porque só sendo se pode dar luz à flores.

E por falar em dar a luz,
encontrei o Sol no meio do caminho.
Ele não quis assinar tratado.
Me disse que ser finito é a coisa mais real do mundo
E no sentido de ser finito
Era preciso ser Flor.

No que o caminho continua pra mim
Encontrei o Céu
Que virou pra mim e disse:
Transforma-te em flor, e não haverá mais assinaturas em tratados.
Tu serás como uma árvore.
E vai viver de sol.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Uma rosa amarela
















Era ela por quem ele procurava a vida inteira.

Mas quem podia imaginar, tanta sinceridade naqueles olhos azuis ou verdes escondidos. 
Quem se importaria em notar tamanha beleza enterrada num paraíso de sábias palavras e uma doce voz?   
Ela poderia não notar, mas ele não sabia que era por ele que ela implorava todas as noites. 
O perfume, os olhos, o calor da palma da mão, os calos nas pontas dos dedos. 
O tato da sua nuca. 
Eles não poderiam se encontrar, a menos que se reconhecessem. 
Mas eles não sabiam por quem esperavam. Mas esperavam como se sonhar alimentasse. 
Bastou uma rosa de cor amarela, para que o nó se desfizesse. 
E tudo aquilo que se sonhara virava, como uma jogada do destino, realidade. 
Não era preciso procurar, porque ali era o que devia ser. 
Foi então que eles se olharam de novo, e viram flores dentro de si.