domingo, 30 de dezembro de 2012

Noite de lua gigante no céu

Havia naquela noite uma lua gigante no céu, e dois namorados olhavam para ela.
 - Você sabia que se nós pudéssemos andar até a lua, uma vida inteira andando não seria suficiente para chegar até lá.
 - Você andaria até lá, se pudesse?
 - Acho que não, seria cansativo. Mas seria legal, poder andar até a lua, né?
 - É, seria.
 - Você andaria?
 - Se você andasse até a lua, eu acompanharia você. E uma vida inteira não seria o suficiente para te acompanhar. Mas também acho que seria cansativo.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Um poeta de chapéu

Eu vi um poeta. Ele usava chapéu e bigodes. O poeta tinha um sorriso quebrado, daqueles que só se tem quando se leva uma porrada que não para de doer jamais. A ferida que nunca sara, a ferida que criou todas as poesias do mundo. Desde Homero. O poeta nunca conta que ferida é esse, se calhar, ele nem desconfia de onde ela vem. Mas para ser poeta é preciso magoar-se e viver da mágoa criadora de tudo, do amor à dor, e não que estes sejam muito diferentes. Mas o poeta se cobre de esperanças quando ama, e deixa muitas vezes a dor de lado, ou não, há poetas que juram que amor tem que doer. Recite uma poesia, pedi ao senhor de chapéu e bigodes. E ele respondeu: Há num pedido, desejos escondidos, e no seu pedido e na minha poesia, perdidos são os desejos. Encontraremos-os. Não desista, e eu não pararei de fazer poesias.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Dia seguinte


Hoje não há nada que eu deva saber de você.
Já que ontem dançamos até a meia noite e você me deu um beijo na testa.
Hoje você não sabe nada de mim.
Porque ontem você pegou na minha mão sem querer e sorriu.
Amanhã talvez a gente se encontre.
E aí, você pode me contar alguma coisa que eu ainda não sei.
E eu posso te pintar de novo.

Amanhã, talvez, a porta se abra novamente e eu possa te enxergar de longe.
Amanhã... ou depois, não importa.
O que importa é que eu te encontre de novo.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Da minha rede













Da minha rede eu vejo a lua
Vejo o universo inteiro
Que cresce ao meu olhar
A cada dia

Da minha rede eu sinto o vento
A brisa leve que o mar
Me presenteia

Da minha rede eu vejo o céu
E a lua está pela metade
Há uma faixa preta nela
Uma parte escondida

Da minha rede eu vejo o sorriso do mundo
Dos astros
Das nuvens

Da minha rede eu vejo o Deus que existe
Que me embala no movimento
Da minha rede

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Uma chama minha e tua

Saudade floresceu no meu jardim, e eu não tenho coragem de corta-la.
Uma vela acendeu.
E você ainda não percebeu que seu destino foi pintado junto ao meu.
E inventa.
Bate palma.
Uma vela se apaga.
E uma chama se acende no espelho.
Permanece, virtual.
Falsa.
Hoje eu acordei chorando.
Mas a saudade cheirava à tulipas.
E isso me fez bem.
Quando chove, a saudade cresce.
E quando venta, a vela quase apaga.

Acredito.
E acordo chorando.
Sinto que sabes que estou. estou. estou.

sábado, 1 de dezembro de 2012

A um passo de ti.

Eu vou te ver. Antes que você chegue.
Vou te despir. Antes que você se vista.
Vou te libertar. Antes que você se prenda.
Vou te abraçar. Antes que você me beije.
Vou te lavar. Antes que você se suje.
Vou te dar razão. Antes que você questione.
Vou te dar um caminho. Antes que você se perca.
Vou ser canção. Antes que você pegue seu violão.
Vou te amar. Antes que você se conheça.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Eu, curinga.


Há uma inquietação dentro de mim, dentro da minha alma. Como se tudo que não é nominável existisse em mim. Uma constante mudança de quereres e um arrependimento sutil de todas as coisas que se passaram, as feitas, as desfeitas, as não-feitas. Uma porta se abre na minha frente, mas por um prazer qualquer eu a fecho. E grito com ela, só porque gritar é algo legal.
Escrevo tudo o que sinto, ou que geralmente finjo sentir. E publico por pura vaidade.
São apenas as canções que escuto que me acalmam, peço licença (poética) para canta-las.
E não mais por vaidade me olho no espelho, como uma vontade de me sentir igual a mim. Igual a alguma coisa.
Mas, não. Continuo sendo diferente. Continuo não fazendo parte do bolo. Sou um Curinga. Não faço parte de naipe algum. E nem ao menos poderia fazer, já que pra ser de Dama ou Valete teriam que existir outros três iguais a mim.
Não, apenas um reflexo virtual no espelho que há de ter alguma semelhança.
E é isso que eu ganho por ser assim.
Num mundo de copas e paus e espadas e ouros, talvez ser curinga seja a solução inventada para aqueles que desejam ser diferentes, só pelo medo de ser igual.
Talvez a verdadeira graça esteja em saber que você é facilmente descartado do jogo. 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Viagem metafísica e carnal ao som de Pink Floyd.


 Pegou o cigarro deu um trago e deitou na minha cama. Ficou observando a fumaça por um breve momento e me olhou.
Cantarolou uma música conhecida ao me encarar, tenho quase certeza que era Have a Cigar, mas talvez fosse outra, não prestei tanta atenção.
Ele continuava a cantarolar e a me olhar. E como quem sabe que algo sério e definitivo vai acontecer, eu congelei. Eu sabia a letra da música, mas não conseguia cantar!
Entrou um solo enorme de guitarra. E ele me beijou. Não sei ao certo quantos minutos durou aquele solo, mas foi o tempo exato, nem mais, nem menos.
Quando a música acabou, ele deu outro trago. Levantou, mexeu no sonzinho que ficava na estante.
"Shine on you crazy diamond?"- eu perguntei, meio sem saco.
"Vai ser a música que eu quiser"-  e deu um sorriso de quem estava prestes a fazer algo ilícito, perigoso.
Apagou o cigarro na janela e novamente deitou na cama.
Me olhou de novo, me segurou pela cintura e riu.
Precisamos olhar mais pela janela - disse com ar de quem engana criança.
Eu levantei da cama, entendendo o que ele quis dizer. Olhei pela janela, e todas as estrelas brilharam.
Aquele som, aquele beijo, tudo tinha saído da Terra. Estávamos no espaço, eu, ele e Pink.
Todas as estrelas brilhavam e nosso quarto flutuava no tempo, no espaço.
Ele me abraçou e disse - Viu o que eu fiz pra você?

Depois de alguns momentos, não tinha certeza se era viagem minha. Mas que seja.
Na minha mente ou não, aquilo foi sublime.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

XIII

XIII
Leve, leve, muito leve,
Um vento muito leve passa,
E vae-se, sempre muito leve.
E eu não sei o que penso
Nem procuro sabel-o.

Alberto Caeiro


Ontem a noite um homem passou aqui. Tinha cabelos negros e usava uma barba comprida. Disse que voltaria. Eu não entendi muito bem o que ele queria. Acho que deveria ter algo a me falar. Mas não o fez.
Só disse que voltaria. Com um sorriso nos lábios.
Ele também perguntou meu nome e se eu gostava de tulipas. Mas que depressa, eu disse que essas eram as minhas flores preferidas. E que mais do que de tulipas só os abraços. E ele disse que voltaria.
Sentei no banco da varanda e esperei. Espero. Mas ele ainda não voltou. E não sinto que vá. Nem sombra da sua presença nesta tarde ensolarada e seca parecem existir. Não existem.
Para quem anda sozinha, qualquer possibilidade frustrada de companhia é como a perda de algo tão valioso quanto tulipas nos trópicos.
Acho que ele não volta. Ele disse que voltaria.
Fico prostrada no banco como se pudesse tirar algo da tarde, como amor, de um estranho. 

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Vazio II


Não sinto nada. É possível que eu não saiba sentir mais nada. E se soubesse, não reconheceria.
Acho que passa, deve passar. E se não passar, acostuma-se.
Não sinto nada. Não consigo sentir nada. Nem tristeza, nem alegria. Nem amor, nem ódio. Nada. Qualquer um que passe na rua a zombar de mim não ganhará nada, nem um choro de quem é ofendido, nem um tapa de quem não atura ofensas.
Não sinto nada. Se me disserem que sou feia, não me olharei no espelho, me indagando sobre a afirmação. Nem rirei, achando graça de tal absurdo.
Nem o frio, nem mesmo ele, companheiro querido das noites de julho, posso sentir. É uma estação que não é fresca, nem quente. Nem tampouco poética como o outono, nem mesmo colorida como a primavera.
Dou um trago, afim dê que alguma substância contida naquela bebida me de alguma emoção. Mas é tão ridículo quanto me beliscar só pra ver ser dor ainda sinto, mas nem isso.
Coloco uma música triste, olho a foto de um falecido, leio sobre a situação das crianças de Serra Leoa, e nem assim. Nenhuma lágrima, nenhuma mágoa, nenhuma nostalgia, nenhum sentimento de pena me abala.
Leio uma antiga carta de amor, assisto o jornal, um filme de Almodóvar, leio Pessoa. E nem assim.
Espero que passe. E se não passar, eu vou passando.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Passos

O passo era agitado, como se eles quisessem correr, mas não podiam. Andavam tortos, sujos, fedidos. E eu ousei a parar para olha-los. Eram meninos, meninas.
Eu imaginei que eles estivessem saindo da escola. Mas não, não estavam vestidos como quem sai da escola. Alguns sequer vestidos estavam. Eram trapos que os cobriam. Andavam. Como uma cena conhecida de um tempo recente que tentamos nos esquecer.

Era verdade que eles não me ignoraram ali. E como ninguém os olhavam, minha presença, minha observação causou inquietude naqueles passos. Eles não queriam que eu olhasse? Eles tinha vergonha? De que? Das manchas de poeira em suas caras? Dos rasgos em suas roupas?

Eu quis perguntar. E antes de balbuciar qualquer palavra que fosse, um menino parou.
Olhou-me nos olhos. Era um olhar sereno, de quem não esconde segredo. Encarei-o de volta e ele sorriu. Continuou andando e eu o segui.
Menino! Menino! - gritei. E ele continuou.
As ruas do Rio de Janeiro estavam tomadas de crianças que andavam rápido mas não corriam. E ninguém parava pra olhar.

O mais curioso, é que de fato, aquilo não tinha nada de anormal, mas pra mim, foi um momento único. Não sei explicar ao certo o porquê. Mas ali, naquela rua cheia de carros e gente, meninos e meninas andavam como não se deve andar. Depressa e sem correr.

Me perguntei se eram meninos de rua. Deviam ser. Talvez estivessem indo a algum lugar pedir dinheiro e comida, ou guardar carros. Ou será que eram apenas crianças sujas de tanto brincar?
Quem seriam seus pais? Quem os deixou sair?

Foi então, que bem em frente ao Parque Lage eles atravessaram a rua e entraram.
A minha surpresa não podia ser maior. Ali, enconstada numa árvore, estava uma senhorinha de 70 e tantos anos. Cabelos brancos, vestido de algodão, diadema, sandálias de couro. E várias bolsas de feira.

As crianças corriam e gritavam: Tia Lúcia! Tia Lúcia!
Um menino chegou primeiro e arrancou um dos sorrisos mais lindo que eu já vi. Ganhou um abraço bem apertado. E de longe eu consegui ouvir a voz meio rouca da senhora: Que saudades, meu filho. Então, todas as crianças foram chegando e a abraçando. Umas ganhavam beijos na testa, outras eram chamadas atenção por não terem tomado banho.

A senhora me viu. E sorriu. Fez um sinal pra eu chegar mais perto.
Como quem sabia exatamente o que eu andava me perguntando, ela disse: Essas crianças são muito especiais. E você já vai saber porque.

De dentro das sacolas de feira, surgiram diversos instrumentos. Pandeiros, caracas, flautas doces, gaitas, tambores e chocalhos.

Como se Deus tivesse mandado 15 arcanjos para tocar A Paixão Segundo São Mateus, de Bach, aquela música chegou aos meus ouvidos.

Foi então que eu entendi. Que aquilo estava no planos das ideias. Que nada daquilo de fato havia acontecido. Que era transcendental. E só os muito sortudos poderiam escutar. Uma lágrima caiu - Eu disse - falou a senhora com um orgulho que só as mães tem.

Aquilo que só se pode ver quando os olhos enxergam além do óbvio é o que dá sentido a nossa existência. O novo já existia, mas meus olhos estavam acostumados a olhar para as mesmas coisas. E foi por isso que eu entendi. Aquilo não estava acontecendo em outro lugar, senão dentro de mim. Eram os arcanjos que Deus tinha enviado para cantar aquilo que eu precisava saber.

Eu poderia ter enxergado apenas meninos de rua.

terça-feira, 27 de março de 2012

Invento o Cais

Eu inventei você. Seus gostos, seus jeitos, seus humores. Só teu corpo eu não inventei.
Ele era meu reino. E sobre ele, eu exercia todo o poder que eu não tinha.
Inventei até que você me amava. Inventava todo dia. Você dizendo pra mim, com todas as letras, e com todo o carinho que alguém possa querer: Eu te amo. Você dizia todo dia.

E eu acreditei no que inventara. Você era meu Hércules, meu Aquiles, meu Mr. Darcy, meu Romeu, ou qualquer outro entre tantos inventados. Era aquilo tudo que eu sempre sonhei.

Como boa lusitana que sou, inventei o mar pra você navegar. E um cais. No qual te esperaria todos os dias, com o peito cheio de amores. Todos seus. Inventados.
Quando você saia pro mar, eu te inventava um pouco mais. Seus cabelos voltavam mais compridos. Sua barba, maior. Seus olhos, mais escuros.

E nos teus beijos, mais quentes do que aquele sol que me queimava a pele, eu morria de tanto inventar. Bastava ter você. E meus sonhos. Teus abraços e sua mão esquerda que me desenhava ondas dos mares por onde navegavas.

No dia que minha imaginação falhou. Você não voltou do mar. Eu tentava lembrar dos teus lábios, do teu cheiro. Mas não adiantava. Eu tinha apagado você. Da mesma forma, simples e apaixonada como havia te inventado.

Nosso Cais continuava lá. E a água brilhante e os pássaros coloriam a paisagem e cantavam uma melodia que eu não conseguia entender. Era teu nome. Mas eu, não consigo lembrar.

domingo, 4 de março de 2012

Agonia

Era de manhã e tudo era branco. Ele sentou ao meu lado.
Não disse uma palavra, nem virou os olhos a ponto de me olhar.
Ele fitava o nada. E eu o olhava com um afeto que não se tem por estranhos.
Esbocei uma palavra, afim de chamar sua atenção. Mas ele continuava imóvel,
salvo pela sua respiração que fazia mover o nada a sua frente.

Eu continuava a olhar os olhos, os cabelos, a nuca, a boca e meu afeto crescia.
Ele era branco, alto e tinha grandes mãos. A barba loira e os olhos pretos e secos.
O tempo não passava e o espaço não existia, mas a cor mudara. Tudo era azul.

Com algumas gotas de saliva que saiam do seu silêncio, ele matou sua sede.
Parado por uma eternidade, ou uma vida curta. Ele permanecia sem me olhar.
A coragem de falar vinha à ponta da minha língua, mas ia embora a cada inspiração dele.
Eu quis desistir e deixa-lo. Mas pra onde eu iria?

Mudei de lado, para o lado que não existia. Talvez o esquerdo, não importa.
Mudei de lado como se não me movesse. Ele nem piscou.
Como uma súbita vontade de quem não pensa nas consequências de nada, estalei os dedos.
E como se nada tivesse acontecido, ele permaneceu.

Eu me perguntava porque ele não ia embora. Me perguntava se eu estava no lugar errado.
Se eu deveria sair. Tão retórica quanto a minha pergunta foi o silêncio dele. Cheio de voltas que não chegava a lugar algum.
E tudo ficou vermelho.

Eu decidir levantar e ir a qualquer lugar que não existisse ele. Mesmo que o nada ainda fosse maior e a cor feia.
Andei, andei...
E tudo ficou preto.

E o silêncio ganhou um nome.
Saudade.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Fado Português



Me falaram que o Fado cantava a tristeza da gente. Comigo não. O fado também canta minha alegria.
Alegria de ver horizontes distantes e rios de cores celestes.
A lindeza de uma terra que de terra tem pouco, mas muito tem de mar. E mar... ah, o mar me conhece.
As guitarras choram meus amores. As violas dançam minhas alegrias mais simples.
E a voz, a voz portuguesa que lamenta, a mim ela a agradece.
Quando o Fado nasceu trouxe ao mundo um lamento que dói na alma.
Mas a única dor que eu sinto hoje é a falta do fado.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Acordar e dormir, isso é relevante.

Ainda é escuro e um amigo dorme ao lado. É provável que ainda exista um resquício de sonho em mim. Do contrário, não pensaria tal coisa.

O amigo dorme e sonha. Tal como eu, há algumas horas. E não deveria fazer sentido, porque onde estamos, não deveríamos ter dormido. Pra que dormir? A vida acordada é bem mais real do que os sonhos que crio e que inevitavelmente me aprisionam o dia inteiro. Aquilo que é irreal toma conta de mim, meu irreal é mais bonito.

Talvez seja por estar tão longe da realidade que eu me permita não sonhar. Ou sonhar acordada fingindo ser realidade aquilo que sonho. Ou talvez eu mesma ainda não tenha acordado. E seja a mesma coisa.

Agora o amigo acorda. E me pergunta se ainda estou dormindo. Como se eu não soubesse que nem dormindo, nem acordada estou. Eu estou a sonhar. E transfigurando a realidade. Por que diabos eu ficaria acordada ou dormindo, se sonhar é mais legal?
Ele mesmo ainda não decidiu se acorda ou dorme, se sonha ou vive. Muito menos eu. Ainda não decidi e nem o farei, ficarei aqui, naquele momento entre o acordado e o dormindo onde que muitas pessoas pensam que estão caindo. Eu ficarei ali, sem dormir. Enquanto meu amigo não levanta. E quando tal acontecer, eu continuarei ali. A andar pelas ruas da minha não realidade.

E não faz o menor sentido.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Marina Morena



Tua luz se irradia negra e brilhante. Por onde passa, ela carrega consigo o teu sorriso.
O teu cabelo comprado.
A tua alma, imensurável, como todas as almas que não cabem num corpo.
O teu corpo, desenhado por Deus no último dia da criação.

Tu também levas consigo a minha alma. E tudo o que nela tu cativaste.
Leva o meu gosto pela vida. E pela noite.
Pela tua cor e tudo o que ela representa. Pela tua música.
Tu me fez, quando nada mais existia.
E o fez sem perceber.

Dá-me tua mão. Pra vida. E me ilumina.






Dedicado à minha musa: Marina Pereira.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Cartografia d'alma.

Da minha carne sobram poucas partes pra você desvendar. Meus mapas foram desenhados há algum tempo. Mas você pode se guiar por eles. Já minh'alma, nesta sim, você será meu Colombo! Meu infante, meu bandeirante, meu descobridor.

A alma cá dentro anseia por teus desenhos, por teu lápis, teu papel, teu pincel. Desenha minha alma.

Nenhuma curva da minha carne será tão bem retratada por qualquer outro do que os ventos sutis que minha alma fará no teu traço.

Ah, teu traço. Suave, firme, perfeito. Ah, teu traço!

Espera minha alma por tua inspiração. Vem.