terça-feira, 15 de junho de 2010

Sensações indizíveis!

Eu abri a porta da varanda para deixar o frio entrar. Em um minuto eu estava completamente gélida. Para alguém que sempre gostou tanto do calor, eu me perguntei o que mudou. Por que eu amo essa sensação de congelamento? Estranho...
Eu fechei... e esperei até sentir meu sangue circular novamente. Senti o rubor da minha face. E ele pouco significou. Eu ainda sentia muito frio. Me parecia que a porta ainda estava aberta e que aquele vento brando e congelante não tivesse cessado. Eu sentia o sangue. Eu sentia que ele estava ali irrigando-me fielmente como de costume. Mas não era um sangue quente. Era frio. Como a noite lá fora. Eu via uma lua brilhante que iluminava tudo, apenas eu ficava na penumbra. Inaquecível.
A sensação era agradável a minha cabeça, era como se por um curto tempo todos os meus pensamentos tivessem congelado. Mas meu corpo gritou, num espasmo súbito: Me esquente!
Eu obedeci. Mas a vontade de reabrir a porta ainda era grande. A vontade de não sentir mais nada. Enquanto o frio era grande eu nem conseguia senti-lo. Era absolutamente insensível. Não ouvia, não via, não falava e não sentia. Nem meus pelos ousavam arrepiar. Nada. Era um corpo estático, uma mente vazia em frente a uma porta de varanda aberta, observando uma lua, a qual nem conseguia enxergar. Talvez naquele momento até meu coração tenha congelado e parado de bombear meu sangue. Foi pouco tempo. E agora eu estava com frio. E ainda que eu gostasse do frio, não conseguia entender o porquê.
Talvez tenha sido a sensação de morrer por segundos, talvez por um segundo eu tenha realmente parado. Não sei, ao certo, o que aconteceu para amar tanto esse frio. Que até incomoda um pouco, mas me gela provocando sensações indizíveis.

5 comentários:

Gabriel Zambrone disse...

Um frio abrupto que cessa qualquer forma de expressão, até do pensamento. Disível, mas imensurável.

Carol disse...

"Talvez tenha sido a sensação de morrer por segundos"...
Sentir frio é perder calor exageradamente,a morte é a perda total.
Testar esse limite por alguns instantes deve ser no mínimo instigante...

Paulinha disse...

Eu poderia fazer um comentário bem legal, do tipo: "frio? Vc diz que as pessoas aqui nem sabem o que é frio!" ou então "Faz como minha mãe e usa luva!".

Mas como, obviamente, meus comentários nunca estariam a altura do seu texto, quero só dizer que cada vez que vejo um texto seu dá vontade de falar pra pessoa do lado "Ei, olha... é minha irmã", cheia de orgulho.

Vc é fo**... Não tem outra palavra pra dizer... Aliás, palavras são com vc, não comigo.

Te amo... e, pode ter certeza, que aqui tem alguém pra sempre te aquecer, pra não deixar a sensação de "morrer" durar mais do que o suficiente pra vc gostar. Eu tô aqui pra fechar a porta na hora certa e cortar o frio, e pra bombear seu coração se for preciso.

Te amo!

Ray L. disse...

Talvez não seja o frio. Podia ter sido o calor.
A questão é que um momento de reflexão nos dá essas sensações. Mas se vc por um momento não pensa já não é reflexão. A meditação é a Arte do não-pensar. Talvez vc quase tenha chegado ao nirvana. Será?
Vc está viva, e mesmo não refletindo na hora, só sentindo. Isso te fez refletir agora. No que isso melhora a sua vida? As vezes só o ato de se expressar, desabafar já basta.
Vc é sensacional. Eu amo você!

Clarissa de Andrade Correa disse...

Talvez não seja o frio que tenha te feito amar, mas sim o seu desejo de senti-lo. O desejo, a expectativa muitas vezes é maior do que o frio, ou o calor. E apenas por imaginá-lo, eu já comecei a tremer.