quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A Torre de Observação.

Daqui de cima eu te via, mas você não podia me enxergar. Ou não queria. Te incomodava o meu olhar e você sabia. Você insistiu olhar pro lado, com um esforço enorme. Eu não tinha o menor motivo pra me animar.

Daqui de cima, a princesa gritava socorro e ninguém a escutava. O vento fazia muito barulho e as nuvens escondiam o topo da torre. E ela não tinha o menor motivo pra se animar.
Foi quando ela disse: Vamos ser sinceras, está ficando tarde e ninguém vai nos achar.
Lá fora tudo parecia tão distante e o vento sussurrava tão alto quando uma banda.

Deve haver algum jeito de sair daqui. Ela disse. Mas não temos motivo pra nos animar.
Daqui de cima nunca ninguém me viu. Eu apenas consigo observar tudo que acontece lá fora. Mas não me percebem. Não me escutam. Não me olham.

Daqui de cima podemos ver sem ser vistas. Podemos assistir a festa, mas nunca nos animar.
Uma torre como esta serve apenas para observação, sem a menor chance de sair. A menos que você descubra a maneira de nos tirar daqui.

Daqui de cima nós víamos dois cavalheiros se aproximando. Mas como a animação já não existia, nem fizemos questão de nos manifestar. No fundo queríamos que eles nos tirassem dali, mas era mais fácil continuar a beber aquele vinho quente. Afinal, ter esperança, cansa.

Daqui do alto pode se ver tudo e fazer o quiser que ninguém ouve. Embora a princesa se sinta cansada da solidão. Ela ainda não entendeu que simplesmente observar pode ser participar da festa.

4 comentários:

Paulinha disse...

Cara, foda seu texto. Eh pessimo sentir como se sente a princesa, presa, fora de tudo, isolada de todos. Mas, eu discordo de vc... observar nao eh participar... eh so criar vontade de...

Thata disse...

estava ausente daqui, mas ja aqui estou a te elogiar.
muito bom, julinha. Continuando o debate huahaa .. a princess pode ate estar participando, mas sera que isso basta?acho que nao ne....


Thaissinha

Anônimo disse...

Faz calor dentro daquela torre cambaleada. O sol chacoalha qualquer vontade de permanecer ermo dentro daquele salto alto em forma de concreto. Descalça, ela se irrita. Sozinha, o eco atordoa. Jogou o peso da coroa no muro das lamentações e ateou fogo nos vestidos chorados. Desceu as escadas em círculos viciantes como lembrança do significado da solidão. Dilacerou as portas com a delicadeza da ira. Não teve dúvidas naquela tarde em que a melhor coisa que a torre tinha para oferecer era sua austera sombra. Todo lado negro tem algum ponto fraco. Respirou triunfante o desejo de sorrir. Fechou os olhos rapidamente e fez o cenário. Dois cavaleiros templários antes vistos com desânimo, agora desceram de suas próprias torres para ir ao encontro da sua sombra. Abriram um sorriso infantil e esqueceram da morte, solidão e das complexidades. Cantaram mil sinfonias e atearam fogo na calma que desencadeia toda essa fantasia que você me causa. Te espero lá embaixo, na sombra da nossa torre.

Clarissa de Andrade Correa disse...

esperança cansa.
falou tudo.
e observar é participar, num distanciamento que tira a humanidade da gente, de vez em quando. Observar é participar sem estara presente, e talvez seja fácil esquecer-se. To me identificando brabo com a princesa.