domingo, 4 de março de 2012

Agonia

Era de manhã e tudo era branco. Ele sentou ao meu lado.
Não disse uma palavra, nem virou os olhos a ponto de me olhar.
Ele fitava o nada. E eu o olhava com um afeto que não se tem por estranhos.
Esbocei uma palavra, afim de chamar sua atenção. Mas ele continuava imóvel,
salvo pela sua respiração que fazia mover o nada a sua frente.

Eu continuava a olhar os olhos, os cabelos, a nuca, a boca e meu afeto crescia.
Ele era branco, alto e tinha grandes mãos. A barba loira e os olhos pretos e secos.
O tempo não passava e o espaço não existia, mas a cor mudara. Tudo era azul.

Com algumas gotas de saliva que saiam do seu silêncio, ele matou sua sede.
Parado por uma eternidade, ou uma vida curta. Ele permanecia sem me olhar.
A coragem de falar vinha à ponta da minha língua, mas ia embora a cada inspiração dele.
Eu quis desistir e deixa-lo. Mas pra onde eu iria?

Mudei de lado, para o lado que não existia. Talvez o esquerdo, não importa.
Mudei de lado como se não me movesse. Ele nem piscou.
Como uma súbita vontade de quem não pensa nas consequências de nada, estalei os dedos.
E como se nada tivesse acontecido, ele permaneceu.

Eu me perguntava porque ele não ia embora. Me perguntava se eu estava no lugar errado.
Se eu deveria sair. Tão retórica quanto a minha pergunta foi o silêncio dele. Cheio de voltas que não chegava a lugar algum.
E tudo ficou vermelho.

Eu decidir levantar e ir a qualquer lugar que não existisse ele. Mesmo que o nada ainda fosse maior e a cor feia.
Andei, andei...
E tudo ficou preto.

E o silêncio ganhou um nome.
Saudade.

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