sexta-feira, 10 de agosto de 2012

XIII

XIII
Leve, leve, muito leve,
Um vento muito leve passa,
E vae-se, sempre muito leve.
E eu não sei o que penso
Nem procuro sabel-o.

Alberto Caeiro


Ontem a noite um homem passou aqui. Tinha cabelos negros e usava uma barba comprida. Disse que voltaria. Eu não entendi muito bem o que ele queria. Acho que deveria ter algo a me falar. Mas não o fez.
Só disse que voltaria. Com um sorriso nos lábios.
Ele também perguntou meu nome e se eu gostava de tulipas. Mas que depressa, eu disse que essas eram as minhas flores preferidas. E que mais do que de tulipas só os abraços. E ele disse que voltaria.
Sentei no banco da varanda e esperei. Espero. Mas ele ainda não voltou. E não sinto que vá. Nem sombra da sua presença nesta tarde ensolarada e seca parecem existir. Não existem.
Para quem anda sozinha, qualquer possibilidade frustrada de companhia é como a perda de algo tão valioso quanto tulipas nos trópicos.
Acho que ele não volta. Ele disse que voltaria.
Fico prostrada no banco como se pudesse tirar algo da tarde, como amor, de um estranho. 

5 comentários:

Anônimo disse...

Que coisa linda sua sensibilidade poética.

Carol disse...

Me fez internalizar de leve... Adorei...
Eu me encanto mais com as coisas que passam, porque não sei cuidar delas quando elas ficam...
Esperemos pelo Amor, mesmo que ele passe, às vezes penso que as coisas boas estão em nossas vidas só de passagem...

Aline Rochedo disse...

Esperar também tem seu sabor, amargo talvez, mas se dele surgem as doces palavras, esperemos um pouco mais...

Mauro Rebello disse...

Esse merece muuuitos curtis, mto lindo!

Claudio disse...

MARAVILHOSO