quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Um poeta de chapéu

Eu vi um poeta. Ele usava chapéu e bigodes. O poeta tinha um sorriso quebrado, daqueles que só se tem quando se leva uma porrada que não para de doer jamais. A ferida que nunca sara, a ferida que criou todas as poesias do mundo. Desde Homero. O poeta nunca conta que ferida é esse, se calhar, ele nem desconfia de onde ela vem. Mas para ser poeta é preciso magoar-se e viver da mágoa criadora de tudo, do amor à dor, e não que estes sejam muito diferentes. Mas o poeta se cobre de esperanças quando ama, e deixa muitas vezes a dor de lado, ou não, há poetas que juram que amor tem que doer. Recite uma poesia, pedi ao senhor de chapéu e bigodes. E ele respondeu: Há num pedido, desejos escondidos, e no seu pedido e na minha poesia, perdidos são os desejos. Encontraremos-os. Não desista, e eu não pararei de fazer poesias.