sábado, 20 de julho de 2013

Crônica da Cidade do Porto


Era de manhã quando chegamos à Estação de Sáo Bento, a névoa gélida de janeiro fazia seu papel. E os humores do inverno a seguiam. Fomos andando até a escadaria que dá pra rua, e lá pegamos um táxi. As malas que traziam de Lisboa fotos, livros e a saudade dos dias mais quentes do sul pesavam que nem chumbo.
Ele entrou primeiro no táxi, me deixou a colocar as malas no bagageiro. E ao passo que eu sentia raiva, sabia dos humores invernais. Era ano após ano.
A dor trazia aos seus ossos a lembrança de que a temperaturas abaixo dos 20 graus é angústia de ex-combatente.
Guerra na África? Não, jamais poderia lutar pelo que nunca acreditara. O que lhe havia de ser dito sobre a Nação nunca fizera lá muito sentido. Era um porquê mal arrumado criado por fazedores de notícia que jamais saiam de suas casas intelectuais para o que havia de ser vida. E seus ossos sabiam bem.
O combate de uma guerra imaginária, que resultaria em banqueiros anarquistas, como aquele que teria sido amigo de Pessoa.
O queixume de seus ossos o faziam odiar o que tinha restado de guerra. A luta por banqueiros anarquistas tinha sido inútil. E ele lembrou de um memorial montado para as vidraças que morreram na guerra.
Lembrou das suas amigas portuguesas mais queridas, As Pedras, que haviam se refugiado no Uruguai. As poucas que sobraram após incontáveis perseguições.

Entrei no táxi. E ele chorava. O que passa contigo? – perguntei.
E ele, com o olhar perdido pelos transeuntes bêbados, respondeu:
Penso em Jesus Cristo. As lutas por mais que o tentassem dignificar, nunca tentaram desprega-lo da cruz do calvário.
Não entendi, de primeiro, da onde teria surgido Jesus naquela manhã saudosa em que provavelmente voltaríamos para o lugar que nos vimos pela primeira vez. Ele nunca havia falado de Jesus Cristo.
Mas continuou – Tenho pena de vê-lo tão paciente esperando que alguém o salve.

Então chegamos na ladeira de Campanhã, onde havíamos nos visto pela primeira vez. E ele, ainda com os olhos d’água, me olhou e disse: o que há de ser inverno senão um intervalo para que meus ossos pararem de reclamar da dor.
E não pensa em flores?
Não, elas ficaram todas com os banqueiros.  

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