domingo, 11 de setembro de 2011

Não ser.



Eu parei sem perceber que tinha parado. O lugar era novo. Estranho. Quente. Esperei um pouco. Até que comecei a pensar coisas sem sentido. Era cedo e eu não precisava ser. Era o mar na minha frente. Que não era. Assim como eu não precisava ser. Era um sonho lindo. Ou era a primeira vez que a realidade sorria pra mim. Eu parei e sabia que tinha parado.

Não sei dizer o que via. Mas era bonito. Acho que me vi, talvez. Ou o mar. Não sei. Sentia que precisava me mexer. Mas não queria. Se eu me mexesse eu seria novamente. Precisava não ser por um tempo. E já não era mais cedo. A maré já tinha subido e molhava os meu pés. Não me mexerei. As ondas me escutaram e batiam suavemente no meu tornozelo.

Ainda preciso não ser. Pelo menos mais um pouco. Eu não disse uma palavra enquanto estive parada. Mas me escutaram como se pela primeira vez eu fosse reconhecida como um ser. Eu sou, novamente. Não sei o que. Então, me mexi porque já era. O sonho terminaria. A realidade não iria mais sorrir.

Caminhei mais um pouco com vontade de parar mais um vez. Não podia. Já era tarde. O céu se pintara de rosa, lilás e vermelho. E eu sabia que o negro viria iluminado pelo prata. O céu sempre fora. Eu não. O sol queria dormir. A lua acordar. E eu só queria parar. Só mais um pouco. Esperem, não durma. Não acorde. E de repente nem um, nem outro se encontrava no céu. Eles também pararam.

Enquanto todas aqueles tons iluminavam a água e não se via astro nenhum. Eu decidir parar. E tentar não ser novamente. Mas era rápido demais. Eu parei, eu quando quase não era, voltei a ser. Já era noite. E eu precisava ir. Ser.


Foto: Julia Maria - Pipa, RN

2 comentários:

Clarissa de Andrade Correa disse...

"Já era tarde. O céu se pintara de rosa, lilás e vermelho. E eu sabia que o negro viria iluminado pelo prata. O céu sempre fora. Eu não."

Lindo, lindo. Parar e deixar de ser é difícil, mas quando acontece é tão lindo quanto o que você escreveu.

Carol disse...

Eu também não sou, e só observo as cores.