terça-feira, 3 de setembro de 2013

"Eu nunca guardei rebanhos mas é como se os guardasse"


Existe um poema chamado O Guardador de Rebanhos, do Alberto Caeiro.

Era de manhã quando saímos a caminho de Coimbra, pegamos o trem às 7:23 na estação de Santa Apolónia. E já fazia calor. Eu abri o livro que tinha ganhado, a Poesia Completa de Alberto Caeiro. Achei que seria legal ler mais sobre aquele poeta que morava logo alí e que todo mundo amava. Não poderia saber, afinal, quem poderia imaginar que seria ele que dividiria todo esse peso comigo.
Foi então que na página 52, estava ele. O poema que me tiraria da solidão de viver sem você. Hoje, como todos os dias, eu lembrei dele, porque o mundo me parece muito difícil de entender, e o Menino Jesus me explica, como se soubesse tudo, como se de fato existisse. Foi então que eu percebi a nota de rodapé, do Ricardo Reis – “anseio de contar aos deuses coisas da origem do mundo”.
Então, como em uma aventura espiritual, ele assoprou ao meu ouvido. “Não haverá de voltar, mas você pode inventar que tudo isso seja verdade”. Então, eu lembrei daquele trem, e de como me senti ali, no céu azul da península ibérica. E pensei nas pessoas, nas guerras, no universo inteiro. E cheguei a mesma conclusão que o Menino Jesus, “Em tudo isso falta aquela verdade que uma flor tem ao florescer”.
Eu tento me desculpar com os deuses, mas eles não escutam. O que resta a mim é participar de reuniões periódicas com Caeiro nos meus sonhos. ”E ele brinca com meus sonhos e gozamos o segredo comum que é o de saber por toda parte que não há mistério no mundo e que tudo vale a pena”.  
E eu vou caminhando ao lado do meu pastor amoroso, pelo caminho que houver.
Foi assim que doeu menos não te ver. 

Um comentário:

Marta disse...

Acabei de achar você, sem querer, num comentário do facebook da Carla Lemos. Foi sem querer que o mouse passou pela sua foto e abriu a janelinha com uma foto de capa incrível: "legalizem o orgasmo". Entrei na sua página só pra salvar essa foto pra mim (a propósito, onde foi tirada, você sabe?). Eu, como toda geminiana curiosa, pensei que alguém com uma foto de capa dessas deve ser legal e corri um pouquinho sua página até ler:

Em 2008, eu escrevi num caderninho
"Acabei de ler o Apanhador no Campo de Centeio, a Lara me emprestou.
Vou escutar mais 10 vezes The long and winding road, e vou fazer um blog. Acho que eu preciso escrever. Vai me fazer bem".

E depois de encontrar o link do "Choro de seguir caminhando", caí nesse texto aqui, também maravilhoso.

Na verdade mesmo, o objetivo desse texto todo é agradecer pelos seus textos. Agradecer à vc e à Larissa também, rs. Obrigada.

Acho que você já sabe, mas vou dizer mesmo assim: você tem talento.

Você não sabe, mas eu conto: li muitas vezes O Guardador de Rebanhos quando minha mãe morreu.

Desculpe o comentário imenso,
beijo.